Do Livro: O LIVRO COMPLETO DE WICCA E
BRUXARIA Desvendando os Segredos dos Antigos Rituais, Feitiços, Bênçãos e
Objetos Sagrados , De: Marian Singer , Editora: MADRAS
A Wicca este entre os sistemas religiosos de mais rápido
crescimento nos Estados Unidos, sendo reconhecida até mesmo pelo seu exército.
Da mesma maneira, a Bruxaria é uma prática/metodologia crescente em que a magia
(manipulação de energia) representa um papel fundamental. Note as importantes
diferenças entre Wicca e Bruxaria. Embora relacionadas e com práticas
similares, as crenças por trás delas são frequentemente diferentes. Para
simplificar, lembre-se de que Wicca é uma religião, enquanto a Bruxaria é uma
metodologia. Wiccans geralmente praticam a Bruxaria, mas as bruxas podem não
partilhar necessariamente das crenças wiccans e não se consideraram como tal.
Tenha em mente que em Wicca e Bruxaria estão compreendidas muitas fés e
práticas baseadas em experiências, moldadas intimamente pelos indivíduos
seguindo os Caminhos que escolheram, Isso significa que nenhum livro pode ser a
“autoridade final” acerca de Wicca e Bruxaria. Há muito campo livre para
improviso, empréstimo de outras culturas e Caminhos e personalização dessas
práticas. Na verdade, a habilidade para transformar-se e adaptar-se à terra, à
sociedade e à individualidade de cada pessoa está entre as pedras fundamentais
das ecléticas Bruxaria e Wicca, assim como de muitas tradições neopagãs. Ter a
opção de adaptar costumes e heranças não significa que eles devem ser jogados
fora com a proverbial água do banho. Algumas bruxas e alguns wiccans seguem
apenas sistemas antigos ou familiares com regras e ritos específicos. Elas
honraram a tradição, acreditando que seu poder vem do uso e do aperfeiçoamento
de geração em geração. Todavia, mesmo as mais restritas dentre as tradições
mágicas têm espaço para a espontaneidade e a ingenuidade em dados momentos.
Eis alguns estereótipos comuns: As bruxas comem bebês e são
satanistas. / As bruxas são seres imaginários que vendem suas almas ao diabo em
troca de poderes especiais. Essa imagem folclórica foi difundida por religiões
maiores. / As bruxas são seres humanos com habilidades psíquicas. (Esta
afirmação pode ou não ser verdadeira. Pessoas com poderes psíquicos podem ser
bruxas, mas nem todas as bruxas têm poderes psíquicos. / As bruxas são feiticeiras.
(Este termo é exato de um ponto de vista antropológico). / As bruxas são adoradoras
modernas de antigos Deuses e Deusas que também praticam alguma forma de magia
(esta descrição é bastante acurada para wiccans, mas nem sempre para bruxas(os)).
É hora de começar a pensar em bruxas e wiccans de um novo
modo – como pessoas que simplesmente vivem suas vidas de um modo mágico.
O termo mago(a) é apropriado tanto para bruxas(os) como para
wiccans. Se voltarmos ao tempo de Zoroastro, na Antiga Pérsia, os sacerdotes a
quem ele ensinava eram chamados “magi”; eles consideravam a astrologia uma
arte. Dependendo do ambiente cultural, “mago” era usado para descrever pessoas
adeptas à astrologia, feitiçaria e outras artes mágicas.
Assim como qualquer movimento espiritual ou religioso, Wicca
e Bruxaria dividem alguns conceitos principais, mas incorporam várias escolas e
tradições de magia que são distintas e únicas. Apesar da cara feia que as
religiões concorrentes tentaram atribuir às bruxas, a herança dessas pessoas é
ajudar e curar indivíduos e comunidades. Sim, algumas(uns) usaram seus
conhecimentos e suas habilidades para a destruição, mas a história indica que
esses(as) eram minoria.
“wicce”, o termo anglo-saxão, que significa “aquele que
pratica a feitiçaria”, é a raiz das palavras “bruxa (witch, em inglês) e Wicca.
No princípio, o termo era aplicado igualmente para homens e mulheres sábios,
especialmente os que tinham ofício de herbanários (também chamado por vezes “artes
hábeis”). Após as cruzadas, porém, o termo foi aplicado principalmente a
mulheres e tinha conotações negativas. A maioria das bruxas(os) aprendeu sua
arte como parte de uma tradição de família na qual elas eram cuidadosamente
treinadas. Aldeias e cidades, da mesma forma, tinham suas pessoas hábeis que o
povo procurava para todos os tipos de ajuda – desde o crescimento da colheita
até a cura de um coração partido. Em troca de tais serviços, a(o) bruxa(o)
podia receber uma galinha, uma medida de grão ou qualquer outro produto (O
sistema de escambo ainda vive e prospera na Bruxaria). As(os) bruxas(os)
aprenderam que suas habilidades são apenas isso: um ofício. Era raro ver
qualquer ideia ética ou religiosa envolvida, a não ser que viesse de
influências familiares ou culturais ou fosse imposta pelo próprio senso de
certo e errado do indivíduo. Elas(es) não precisam acreditar em seres divinos
para usar a magia. Não têm necessariamente um código ou tradição ao qual
aderir, a menos que seja ditado por costume familiar.
Escritores como Gerald Gardner e Sir James Frazier recebem
normalmente o crédito por ter cunhado o termo “wiccan” e dado o pontapé inicial
ao movimento nos anos de 1950. Embora os
métodos e as ferramentas dos wiccans sejam frequentemente os mesmos das bruxas,
as ideias acerca dos quais eles trabalham são diferentes. A principal variação
é que a Wicca é considerada religião, com rituais e códigos morais específicos
similares àqueles de outras fés do mundo. Outra diferença é que muitos wiccans
seguem um Deus ou uma Deusa específico e honram diversas deidades. Esses seres
ou personagens podem ser escolhidos pelo indivíduo ou ditados por um grupo, uma
tradição de magia ou um padrão cultural. Nesse caso, o wiccan olha para o
Divino como um copiloto na busca espiritual e um companheiro para guiar
efetivamente e em segurança a energia mágica. Diversas figuras divinas aparecem
como favoritas na comunidade wiccan. Entre elas estão:
APOLO ( Grécia e Roma )
BRÍGIDA ( Europa Céltica )
DAGDA ( Irlanda )
DIANA ( Roma )
HÉCATE ( Grécia )
HERNE ( Europa Céltica )
ISHTAR ( Oriente Médio )
ÍSIS ( Egito )
PÃ ( Grécia )
RÁ ( Egito )
Uma outra diferença é que as bruxas podem ou não se importar
com os resultados potenciais de um feitiço ou ritual, enquanto os wiccans são
ligados à Lei Tríplice. Ou seja, a maneira que como wiccans e bruxas(os) veem a
causa e o efeito de sua magia é diferente. Não significa que elas(es) não
respeitem o poder mágico nem que não tenham ética.
A Lei Tríplice: Harmoniza-se com o conceito de carma. A lei
afirma, basicamente, que o que quer que você faça, quaisquer energias que você “ponha
para fora”, retorna a você triplicada nesta vida ou na próxima.
Uma coisa que bruxas(os) e wiccans têm em comum, porém, é
que ambos se aproximam da magia de modos muito pessoais – modos que podem ser
incrivelmente complexos ou muito simples. Wiccans de cozinha e bruxas(os) de
quintal, por exemplo, contam muito com a magia pragmática, sem complicação,
originada em grande parte no folclore e na superstição. Bruxas(os) de quintal
tradicionalmente não pertencem a um coven. Praticantes solitárias(os) eles(es)
dependem de autodidaxia, discernimento, criatividade e intuição como seus
sinalizadores. Podem ser autodidatas, raramente sendo iniciadas(os) com outras
pessoas. Similarmente a xamãs de aldeia e pessoas hábeis, elas(es) fazem
feitiços e poções para as necessidades diárias.
Nos tempos antigos, as pessoas não tinham tempo livre para
criar feitiços e rituais complexos, de forma que contos de velhas viúvas,
ditados e superstições eram seguidos com tremendo respeito e confiança. A magia
da(o) bruxa(o) de quintal dependia de ter fé em tais crenças e praticá-las
resolutamente (com vontade, com intenção).
Outros praticam a magia com mais reflexos ritualísticos,
buscando inspiração na Cabala (misticismo e magia judaicos) e outros movimentos
místicos e espirituais. As(os) bruxas(os) ritualísticas(os) olham para todos os
aspectos de um feitiço ou trabalho como parte de um grande quebra-cabeças. Cada
peça deve estar no lugar certo para que tudo funcione como deve. Por exemplo, a
fase astrológica da Lua deve estar de acordo com a tarefa, e cada parte do
trabalho deve ser cuidadosamente planejada para levar a energia a um objetivo
desejado. Uma grande maioria de tais trabalhos é utilizada há muito tempo e é
honrada como parte da tradição da qual a(o) bruxa(o) se originou.
Há bruxas(os) más que usam seu conhecimento e seu poder para
ganho pessoal e desejos danosos? Sim, claro que há, assim como há “maus”
cristãos, “maus” muçulmanos e assim por diante. Pessoas são pessoas. Se você
sacudir qualquer árvore figurativa forte o suficiente, é bem provável que uma
ou duas maças estragadas caiam. Assim é a natureza humana. A parte boa é que as
maças estragadas são a exceção, e não a regra.
Tanto as bruxas como os wiccans veem a magia como eticamente
neutra, assim como a tomada elétrica é neutra. A magia é feita da energia vital
existente em todas as coisas. Essa energia é, então, transformada e dirigida
pela bruxa com um objetivo. Assim, e a forma de a pessoa usar a magia que faz
com que ela seja branca, negra ou cinza. Adicionalmente a percepção de cada pessoa
do que constitui o branco, o preto e o cinza não é sempre a mesma. Definir
qualquer coisa em termos concretos é quase impossível.
Para onde as bruxas vão quando morrem? Muitas delas
acreditam que suas almas vão para a Terra do Verão, um lugar de descanso antes
da reencarnação em um novo corpo, em um círculo progressivo de nascimento,
vida, morte e renascimento. Em busca de novas percepções ou ideias, as bruxas
frequentemente olham para outras culturas em que a crença na reencarnação
existiu por muito tempo. Gnósticos, hindus, budistas, cabalistas e druidas creem
que a alma humana não é limitada a um invólucro mortal; Após a morte do corpo, essa
alma é levada a uma outra dimensão onde espera para renascer e reiniciar o
processo de aprendizado. A Cristandade tem o paraíso. O Budismo tem o Nirvana.
Algumas tribos africanas dizem que a alma vai para o ventre da terra para
esperar o renascimento. Na China, diz-se que os espíritos dos mortos esperam no
submundo (que não é o inferno, mas simplesmente um lugar para os espíritos). Os
hindus acreditam que o espírito espera para renascer nas estrelas.
A visão de mundo da minoria das bruxas tem similaridades
notáveis com a dos seguidores de um caminho xamânico. Como os chamãs, elas veem
a Terra como uma sala e aula viva, palpitante, que devem honrar e proteger.
Cada vivente neste mundo tem um espírito, um padrão de energia exclusivo,
incluindo o próprio planeta. Como resultado, as bruxas tendem a pensar
globalmente, na natureza e no universo cósmico. A palavra “xamã” vem de uma das
seguintes fontes: em Tunquso-Manchuriano, a palavra “saman” significa
simplesmente “aquele que sabe”. Em sânscrito, o termo “sranaba” era usado para
descrever um asceta que dependia dos espíritos para informação, conhecimento e
guia.
O corpo da(o) bruxa(o) constrói sua alma. Uma vez que a
maioria delas acredita em reencarnação, seu tempo neste planeta é usado para
aprender e aplicar princípios espirituais para eventualmente interromper o
ciclo de reencarnação e retorno à origem. As bruxas olham a Terra, suas
criaturas e seus elementos como seus professores, com o poder de refletir o
plano e o padrão divino que se estendem por todo o Universo. Tendo isso em
mente, a maior parte das bruxas se empenha em tramar sua magia e viver sua vida
dentro das leis naturais, trabalhando em parceria com o planeta em vez de
guerrear com ele. A maioria das(os) bruxas(os) é muito propensa(o) a proteger
regiões ameaçadas e a vida selvagem, sabendo que a perda de qualquer uma delas
não apenas eliminaria uma maravilhosa oportunidade de aprendizado, mas também
seria um crime contra Gaia (um nome para o espírito da Terra; na mitologia
Grega; Deusa da Terra). Além disso, muitas(os) bruxas(os) doam seu dinheiro ou
seu tempo para causas ecológicas na esperança de educar e inspirar outras
pessoas a fazer o mesmo. A administração deste planeta não consiste apenas em
doações e esforços de reciclagem, estende-se também às práticas de magia. As(os)
bruxas(os) frequentemente enviam energia positiva a partir de feitiços e
rituais. A energia pode ser dirigida para proteger um ambiente ou uma espécie
em particular ou enviada, como um bálsamo curativo, para todo o mundo. Talvez
isso soe grandioso, mas a magia é limitada apenas pela percepção do praticante
quanto ao que pode ou não atingir. Não há razão para que a energia mágica não possa
abranger o mundo inteiro, como um abraço gigante. “A cada passo que damos,
andamos sobre solo sagrado”, cantam muitas(os) bruxas(os).
É impossível separar as histórias da magia e da Bruxaria.
Embora nem toda magia possa ser chamada de Bruxaria, todas as bruxas praticam a
magia de uma forma ou de outra. Na aurora da raça humana quando as pessoas
começaram a compreender a ideia de causa e efeito, começaram sua busca
incessante por razões para tudo o que ocorria no mundo. Assim, se o vento
derrubasse uma árvore e ferisse alguém, o vento seria caracterizado como “raivoso”
e considerado um espírito que deveria ser acalmado. Dessa maneira, quase todos
os aspectos da natureza foram antropomorfizados e os primeiros vestígios do pensamento
mágico nasceram. Enquanto as civilizações se desenvolviam, cada uma trouxe um
novo rosto e um novo tom às ideias mágicas. A mais comum delas era que o
Universo é uma teia feita de todos os tipos de cabos e conexões invisíveis. Se
os humanos pudessem aprender a influenciar uma dessas conexões, poderiam afetar
toda a teia. A princípio, essas tentativas de influenciar o mundo eram muito
simples: uma ação para um resultado. Por exemplo, para amarrar um espírito
raivoso, uma pessoa deveria fazer um nó em um pedaço de fio ou corda. Se a ação
funcionasse, era usada novamente e, eventualmente, uma tradição se criava.
Wicca e Bruxaria modernas partiram do costume de delegar a
autoridade mágica a uns poucos escolhidos. Hoje em dia, todos são bem-vindos a
explorar esses Caminhos e processos, não apenas uma pequena elite. Os poucos
indivíduos selecionados que eram delegados na tarefa de influenciar o Universo,
eram elevados a uma posição de autoridade em sua comunidade. Encontramos tais
pessoas em diversas culturas e sob vários nomes – xamã, sacerdote, mago ou
bruxa -, e elas realizam as mesmas funções básicas, embora o significado
simbólico de suas ações dependa geralmente de sua cultura particular e do contexto
de sua época. Tentativas secundárias de influenciar o destino se tornaram mais
elaboradas e incluíam rituais para tentar coagir os ancestrais, espíritos
poderosos ou deuses à ação. Mais uma vez a comunidade colocaria algumas poucas
pessoas veneradas em funções tão sagradas. Eis alguns títulos de praticantes de
magia pelo mundo:
A BA´ALATH OB – Senhora dos Talismãs (Hebreu)
CYRABDERIS – Feiticeiro (Espanhol do México)
KASHAP - Mago e
feiticeiro (Hebreu)
MAGOS – Pessoa sábia (Grego)
MALEFICUS - Bruxa
diabólica (Latim)
STREGA – Bruxa, originalmente com conotação negativa
(Italiano)
VOLVAS – Feiticeira (Norueguês)
A Bruxaria na Europa:
A história é imperfeita e, por vezes, enevoada por agendas
sociais, pessoais ou políticas; assim, o estudo da história da magia não é uma
tarefa fácil. Para traçar o curso dos eventos até a Wicca e a Bruxaria
modernas, comecemos por examinar as primeiras manifestações da Bruxaria na
Europa. A primeira visão, que a maioria da comunidade mágica rejeitou, é que as
bruxas nunca existiram realmente. A Bruxaria foi simplesmente uma invenção das
autoridades da Igreja, usada especificamente para ganhar poder e força. A
segunda visão é que a Bruxaria se desenvolveu a partir dos cultos de
fertilidade europeus que enfatizavam uma Deusa como deidade central. Embora
esse conceito tenha algum mérito, os historiadores ainda têm que substanciá-lo
com provas escritas. A terceira visão é que a ideia de Bruxaria é uma convenção
social. Quando as pessoas não podiam explicar um acontecimento, culpavam uma
bruxa. Essa perspectiva, tradicionalmente, não admite a existência real de
bruxas, mas as vê como parte de uma superstição. Finalmente, há a teoria mais
acurada que descreve como a bruxaria se desenvolveu gradualmente a partir de
uma grande variedade de práticas e costumes. Muitos desses costumes têm raiz no
Paganismo, no Misticismo hebreu e no folclore grego de feitiçaria, e muitos
deles continuaram no Cristianismo – vestígios de tradições mágicas e pagãs são
frequentemente vistos na Igreja primitiva e alguns perduram até hoje.
Santa Brígida era originalmente uma Deusa europeia tão
acreditada pelo povo que a Igreja adaptou sua história e a canonizou. Esse é um
excelente exemplo de crenças e simbolismos pagãos que a Igreja primitiva tomou
emprestado e incorporou à sua tradição.
Não é senão após o séc. III, o período de conversão de Roma
ao Cristianismo, que qualquer escrito substancial a respeito da Bruxaria pode
ser encontrado. A vasta maioria desses escritos, os mais recentes dos quais
datam do séc. XVIII mostra as(os) bruxas(os) sob uma luz bastante negativa.
Apesar das conexões obvias da Igreja com o Paganismo, os
primeiros cristãos faziam tudo o que estava a seu alcance para desencorajar os
antigos costumes. Livros de penitência da Idade Média frequentemente falam de
punições apropriadas para pessoas pegas praticando a magia. Por exemplo, uma
mãe vista pondo a filha no telhado para curar o enjoo era condenada a uma
penitência de sete anos (a penitência consistia geralmente em um tipo de jejum
ou qualquer outra restrição). A Bruxaria foi também influenciada pelos mitos
que viajaram de uma cultura a outra. As lendas de Diana, a Deusa romana honrada
por muitas(os) bruxas(os) como patrona, por exemplo, integrava uma mistura de
sabedoria celta e teutônica. O que é mais importante aqui não é tanto a mistura
de costumes, nesse fato, mas a comunicação envolvida. Um grande número de
tradições mágicas foi mantido por gerações pelo ensino oral. Por volta dos
séculos VIII e IX, as leis a respeito da Bruxaria se tornaram muito mais
fortes. Por exemplo, Carlos Magno tornou o sacrifício humano um crime punido
com a morte. Outras leis, porém, começaram a minar os costumes e as tradições
das pessoas comuns. Por exemplo, em 743, o Sínodo de Roma declarou ser crime
fazer oferendas a espíritos. Em 829, o Sínodo de Paris baixou um decreto
proclamando que a Igreja não mais toleraria encantamentos e idolatria. Por
volta do ano 900, estudiosos cristãos haviam dedicado muito tempo e esforço
descrevendo como as mulheres eram supostamente desviadas pelo diabo. Esses
eventos ajudaram a preparar a cena para as fogueiras da Inquisição. A
insistência da comunidade wiccan moderna sobre o aspecto da Deusa como deidade
é uma reação a 2 mil anos de presença cristã, quando apenas aspectos masculinos
do Divino eram reconhecidos na Europa.
A Inquisição:
Entre 1100 e 1300, a imagem da(o) bruxa(o) continuou a ser
transformada em criatura diabólica que desprezava tudo o que era sagrado, comia
crianças e realizava orgias selvagens para seduzir inocentes. Histórias de
feiticeiros que pediam a suplicantes que renunciassem a Cristo ou à igreja como
pagamento por seus serviços corriam soltas. “A Tragical History of Dr. Faustus”,
de Christophe Marlowe, publicada em 1604, recontava uma história de um filósofo
que vendia sua alma ao diabo e usava de magia em sua busca pela satisfação
sensual. Os contos e as acusações odiosas atribuídos às bruxas não tinham nada
de novo. Acusações similares apareceram quando os romanos e os cristãos
primeiro se confrontaram e quando os sírios lutaram contra os judeus. Com
efeito, todo grupo quer que suas crenças sejam a “verdadeira” religião. Membros
da comunidade intelectual falaram a respeito dos males da Bruxaria em uma
linguagem floreada, educada; os pregadores disseminaram tais ideias entre as
pessoas comuns. De fato, a Igreja acusou tudo o que era magia de heresia. A
Bruxaria se tornou um crime contra Deus e a Igreja, com exceção da Inglaterra,
onde era vista como uma violação civil. A partir do séc. XII, tanto a lei
clerical quanto a lei mundana endureceram quanto à Bruxaria. As punições
incluíam a fogueira e a excomunhão, assim como o enforcamento. Ainda pior era o
processo da Inquisição, que torturava as pessoas para arrancar delas a “verdade”,
ou seja, para “encorajá-las” a admitir o que quer que o inquisidor desejasse.
No processo, acuar alguém de Bruxaria tornou-se conveniência burocrática; os
índices de acusação cresceram e estava pronta a cena para a caça às(os)
bruxas(os).
“É o destino comum de novas crenças começar como heresias e
terminar como superstições.” – Thomas Henry Huxley (1825-1895), biólogo inglês.
A louca mania das bruxas apertou o passo durante o período
da Reforma. Os líderes intelectuais desse movimento religioso, que procurava
reformar as práticas cristãs na Europa e rejeitar a Igreja Católica como única
cristandade verdadeira, não sentiam necessidade daquilo que viam como fofocas supersticiosas
de Bruxaria e não ofereceram proteção aos acusados. Enquanto isso, o público se
debatia nas novas ideias religiosas e, em sua confusão, desejava projetar seus
desejos e culpas em qualquer um que diferisse de suas opiniões e tradições. Era
o ambiente perfeito para a perseguição em massa – católicos matavam
protestantes, protestantes matavam católicos e ambos matavam bruxas(os). As
sanções legais contra a Bruxaria se tornaram ainda mais duras que antes e os
meios pelos quais as autoridades obtinham confissões se tornaram ainda mais
melévolos. A face folclórica simples da pessoa sábia ou do curandeiro estava
agora oculta sob um véu de maldade e segredo. A maioria dos praticantes dos
antigos métodos esconderia seus pensamentos e práticas até que a atmosfera
mudasse (não necessariamente durante sua vida). Enquanto isso, a noção de
Bruxaria como uma prática “diabólica” se espalhou da Europa Central para a
Escócia, Espanha, França, Alemanha, Suíça e Itália, chegando a alcançar a
Escandinávia no séc. XVII. Entre 1317 e 1319, o papa João XXII autorizou uma
corte religiosa, conhecida como Inquisição, a agir contra feiticeiros e todas
as pessoas que houvessem feito um pacto com o diabo. Milhares de acusações
vieram e o infame “Malleus Maleficarum” (O Martelo das bruxas), publicado em
1486 por Heinrich Institoris como um guia para inquisidores, pôs mais combustível
nas fogueiras da honradez cristã. As pessoas devotas que torturavam indivíduos inocentes
acreditavam que, se a pessoa não fosse culpada, Deus certamente interviria.
Claro que Ele nunca o fez e cada confissão e cada morte davam ao inquisidor
mais poder. A atmosfera na Inglaterra, porém, era diferente. Como Henrique VIII
se separara da Igreja Católica para formar a Igreja da Inglaterra, a Inquisição
nunca ocorreu. Os julgamentos por Bruxaria eram estritamente civis e houve
poucos casos de penas de morte. Em parte, isso pode ter sido influência de John
Dee, um feiticeiro de algum renome, que era consultado regularmente pela rainha
Elizabeth I. Até que James I se tornasse rei da Inglaterra, realmente não se
viram críticas fortes contra pessoas hábeis nem qualquer tipo de caça às
bruxas.
As caças então continuaram até o início de 1700, quando o
estatuto das bruxas foi finalmente revogado. É difícil saber com certeza o que
causou a diminuição da febre. Em parte, a opinião pública certamente ajudou. As
pessoas se cansaram da violência. O número de indivíduos acusados sentenciados
como bruxas na Europa declinou bastante, para o alívio de todos. A última
execução registrada ocorreu na Alemanha, em 1775.
A Bruxaria na América:
A mania de Bruxaria não parece ter atingido a costa
americana até meados do séc. XV, tendo seu ponto máximo nos julgamentos das
bruxas de Salém. Esse foi um exemplo maravilhoso de como um momento inocente se
transforma em tragédia. Algumas meninas haviam experimentado métodos de adivinhação,
mas se assustaram a começaram a fingir que haviam sido enfeitiçadas. Acusaram
mulheres específicas (de quem elas não gostavam) de lhes ter feito mal com
Bruxaria. Confessar-se culpado das acusações frequentemente poupava a vida da
pessoa, mas aquelas que não admitiam ser bruxas eram executadas. Dezoito
pessoas foram enforcadas junto com alguns gatos e cachorros. Além disso, um
homem foi apedrejado até a morte, embora aparentemente a intenção não fosse mata-lo,
mas assustá-lo para que confessasse. Um número entre quatro e dezessete pessoas
morreram na prisão (as fontes desse ponto não são confiáveis). Historiadores acreditam
que, mesmo que alguns poucos desses acusados possam ter feito parte de uma
sociedade secreta, não há nenhuma evidência de que uma maioria deles tivesse
qualquer associação com a Bruxaria Diabólica.
O Renascimento Moderno da Bruxaria:
Ao longo dos séculos, as bruxas gradualmente perderam sua
posição como mulheres de aldeia e foram banidas para as margens da sociedade. A
Bruxaria como serviço comunitário tornou-se uma verdade tácita, desconhecida.
As pessoas hábeis ainda praticavam suas artes? Sim, mas silenciosamente e com
muito cuidado, à sombra da nova visão mundial de que a Bruxaria não passava de
superstição. Esse status quo continuou até o século XIX, quando a comunidade
intelectual começou a considerar a Bruxaria sob uma nova luz. Os intelectuais
começaram a ver a Bruxaria como uma religião natural, que nada tinha a ver com
satã. Esse retrato romântico, completado com um profundo respeito pela natureza,
reviveu o interesse no Ofício. As(os) bruxas(os) haviam sido
incompreendidas(os), malditas(os) e feridas(os). Mas agora eram elevadas(os) a
um novo tipo de mitologia. Pessoas conhecidas, como Sir Walter Scott afirmavam
que a Bruxaria era real e que devia suas origens a tradições pré-cristãs do
povo comum. O interesse do público pelo oculto começou novamente a crescer.
Grupos como a Ordem Rosacruz, a Ordo Templis Orientis (OTO) e a Ordem Hermética
da Aurora Dourada floresceram, todos focados nas artes ocultas. Suas fileiras incluíam
gente notável, como W. B. Yeats e Bram Stoker. Esses grupos e outros
semelhantes traduziram textos cabalísticos cheios de feitiços, conhecimentos
herbáceos e outros processos mágicos. Na ocasião desse renascimento, Aleister
Crowley e Gerard Gardner vieram à frente com novas ideias, e a antiga imagem da
Bruxaria Diabólica foi posta de lado. A nova geração da Bruxaria nascia. Embora
algumas das práticas de Aleister Crowley tenham sido criticadas por serem
desnecessariamente chocantes ou feitas para provocar rebuliço no público, sua
definição de magia permanece uma das melhores já dadas. Crowley disse: “ Magia é a Ciência e a Arte de causar
mudanças conforme a vontade”.
Nos anos 70, práticas de magia, especialmente magia popular,
ainda podem ser vistas em todo mundo (de fato, é bastante certo dizer que as
tradições populares nunca tiveram o mesmo destino da Bruxaria e da Feitiçaria).
A América passou pelo movimento Hippie e experimentou o crescimento de um novo
tipo de individualismo. É tempo de uma nova geração de bruxas sair do armário
das vassouras. Enquanto muitos ainda associam Bruxaria a feitos diabólicos e a
confundem com Satanismo, mais pessoas estão encarando a Bruxaria sob as luzes
fornecidas pelo renascimento romântico. Praticantes de Buxaria ou Wicca
acreditam que habilidades mágicas e psíquicas estão disponíveis a qualquer um
com tempo e inclinação para aprender.
O livro de Gerald Gardner, “A Bruxaria Hoje”, é bastante
conhecido e discutido; Alex Sanders estabeleceu a tradição alexandrina de
Wicca; bruxas Diânicas, que são ligadas ao movimento feminista, entram em cena;
a Declaração da Deusa está ativa. Dezenas de pequenos covens e grupos de estudo
são formados em todo o país. Em 1979, Starhawk escreve “Spiral Dance”, que
figura na lista de livros essenciais para as bruxas. Cada vez mais organizações
mágicas de diferentes tradições começam a nascer pelo mundo. Embora não haja
números oficiais, estimativas baseadas em subscrições anuais e propaganda
boca-a-boca mostram mais de 10 mil bruxas praticantes por volta de 1980. Nos
calcanhares desse crescimento, um novo grupo de líderes emergiu. Esses líderes
são pessoas como você – pessoas brilhantes e amistosas como Marion Weinstein,
que começou a ensinar a magia positiva e a realizar peças de teatro a respeito
de bruxas; Isaac Bonewits, que veio nos ensinar sobre nossa herança e nos
fornecer um guia prático para vivermos a magia; e Scott Cunningham, que dividiu
métodos práticos de Bruxaria com o público (o Apêndice A contém uma lista mais
completa de líderes contemporâneos de bruxaria e Wicca). Igrejas wiccans
reconhecidas surgiram pelo pais e cursos por correspondência estão disponíveis
aqueles que querem aprender magia séria fora de uma estrutura grupal. Hoje, se
você visitar o amazon.com e procurar por títulos sobre práticas de magia,
incluindo Wicca, Bruxaria, Paganismo e o oculto, você vai ter de se embrenhar
em mais de 1.500 catálogos – isso apenas de livros. Alguns deles vendem mais d
1000 cópias por mês – mesmo após muitos anos de catálogo. E se você incluir
nessa busca os CD´s, DVD´s, filmes e programas de TV a dimensão da coisa fica
ainda maior.
Tendo examinado melhor a história da Bruxaria, você pode
entender melhor a diversidade de crenças e tradições na Wicca e na Bruxaria
modernas. Algumas(uns) bruxas(os), por exemplo, se encontram em covens de
treze; outras(os) têm grupos maiores ou menores. Algumas(uns) especificam que
os encontros têm de ocorrer em círculos de 2,70 m; outras simplesmente se
reúnem em volta de uma fogueira ou altar. Algumas(uns) bruxas(os) são
pagãs(ãos) (honram muito deuses e deusas); outras(os) são monoteístas
(acreditando na existência de uma só deidade); e algumas(uns0 são agnósticas(os)
(não acreditam em nenhuma figura de deus). Essa diversidade de crenças e
práticas é o que faz a descrição da Wicca e da Bruxaria modernas muito difícil.
Quem pode dizer o que todas(os) as(os) bruxas(os) fazem ou em que acreditam? Mesmo
assim, há alguns princípios gerais que podem ser aplicados à maior parte dos
praticantes de Wicca e Bruxaria. Talvez a conexão mais universal entre
todas(os) as(os) bruxas(os) modernas(os) seja a apreciação da natureza. O mundo
natural é uma fonte sem fim de metáforas e símbolos que se relacionam com
nossas vidas diárias de diversas maneiras. Como seus ancestrais, as bruxas
procuram um guia nesses símbolos (e uma fonte de poder, uma vez que toda vida
contém energia sobre a qual podem agir com sua magia). Uma segunda visão semiuniversal
na Wicca e na Bruxaria modernas é a busca pelo autoaperfeiçoamento. As(os)
bruxas(os) modernas(os) querem melhorar a qualidade de suas vidas e a das vidas
daqueles que elas encontram durante seus estudos e artes. Elas(es) veem cada
pessoa como sagrada. Logo, suas práticas elevam o potencial humano e fornecem
suporte psicológico. O poder do pensamento positivo é algo que não pode ser
subestimado. Um terceiro item é a atmosfera geral da Bruxaria, que não é uma
prática amarga. As(os) bruxas(os) celebram a vida e o riso e, em geral,
consideram o bom humor como o alimento da alma. Em quarto lugar, as(os) bruxas(os)
modernas(os) não veem suas artes ou habilidades como “sobrenaturais”. De fato,
seu ofício é um modo totalmente natural de direcionar a energia dentro e ao
redor do ser. As ferramentas que usam são simplesmente um meio para o fim. A
única diferença entre as pessoas em termos de como a magia se manifesta é
exatamente o tipo de magia que elas escolhem praticar e como se adaptam com sua
própria força de vontade e seu objetivo. A última, e talvez a mais importante,
conexão entre bruxas(os) e wiccans é que eles reconhecem sua responsabilidade
por sua vida e magia. Raramente um(a) bruxo(a)
ou um wiccan vai culpar um espírito ou o destino por seus infortúnios. Os
wiccans se consideram cocriadores junto com a divindade. Veem o potencial
latente em todas as coisas e põem esse potencial para trabalhar para
transformar a realidade. Não, essa não é exatamente a Bruxaria ou o Paganismo
de nossos ancestrais. Nem a Bruxaria de livros de histórias ou filmes. Em vez
disso, essa Bruxaria é algo muito novo, mas com raízes longas e emaranhadas.
(continua...)
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O LIVRO ESSENCIAL DE UMBANDA (De: Ademir Barbosa Júnior, EDITORA: UNIVERSO DOS LIVROS)
HIERARQUIA
A hierarquia na Umbanda não é tão escalonada como, por exemplo, no Candomblé. Sob a responsabilidade dos Dirigentes Espirituais (Babás e Pai-pequeno e/ou Mãe-pequena), estão os médiuns de incorporação, os Ogãs e cambones. Alguns filhos têm funções bem específicas (como os seguranças de canto e porta, os quais, hierarquicamente, estão abaixo do Pai-pequeno e/ou da Mãe-pequena), sem que haja gradações hierárquicas entre eles, mas sim coordenação de responsabilidade.
O(a) Babá é o(a) Dirigente Espiritual. O termo se refere tanto ao Pai quanto à Mãe da casa, embora, originalmente, no Canbomblé, Babalorixá (também empregado em algumas casas de Umbanda) se referisse aos homens, enquanto Ialorixá, às mulheres.
Popularmente também se usa o vocábulo “Babalaô”, ainda que, em sua origem e no contexto dos cultos de Nação, Babalaô seja especificamente o sacerdote de Ifá.
Assim como há casas de Candomblé cuja direção espiritual é confiada a um Ogã, há templos de Umbanda onde o Dirigente Espiritual não é um médium de incorporação. Em ambos os casos, o Dirigente é secundado por um médium rodante.
A direção espiritual da casa é confiada a alguém pela própria Espiritualidade, não bastando os cursos de formação em Teologia de Umbanda, ou mesmo graduação nessa área. Por determinação da Espiritualidade, um filho de fé pode ser designado a participar de um processo de iniciação para o sacerdócio (geralmente mais breve que do que no Candomblé), com preparação específica (recolhimento, obrigações e outros), ou então o guia de frente (no caso de um filho que pertença ou não à Umbanda, mas tenha mediunidade ostensiva e compromisso espiritual com a Umbanda nesta encarnação) assume a preparação desse filho para a abertura de uma casa, podendo ou não indicá-lo para um processo de preparação com outro(a) Babá.
Na direção espiritual da casa, conta-se ainda com o Pai-pequeno e/ou com a Mãe-pequena, auxiliares diretos do(a) Babá e, em sua ausência, substitutos.
O Ogã na Umbanda relaciona-se à curimba, dedicando-se ao toque e ao canto. Muitas das atribuições dos Ogãs nos Cultos de Nação são atribuídas na Umbanda aos cambones.
Muitos Ogãs, desde crianças, demonstram incrível habilidade para o toque, aperfeiçoando o dom no dia a dia do terreiro. Contudo, também existem cursos especializados para todos aqueles, homens e mulheres, que desejem aprender a tocar e cantar pontos de Umbanda, podendo ou não atuar num terreiro.
O Ogã é um médium de sustentação, de firmeza durante os rituais, atento ao mandamento da gira, a fim de, por meio do toque e do canto, manter a vibração necessária e desejada. Em algumas casas, o Ogã também é médium de incorporação, dedicando-se a ambas as atividades (em especial nas casas em que existam poucos médiuns), ou à curimba, incorporando apenas em determinadas ocasiões.
Cambone é o médium de firmeza encarregado de, dentre várias funções, auxiliar os médiuns e a Espiritualidade incorporada, bem como fazer anotações, cuidar de detalhes da organização do terreiro, dar explicações e assistência aos consulentes. Pode ou não incorporar. Alguns cambones são médiuns de desenvolvimento que auxiliam nos cuidados da gira. Geralmente há um cambone-chefe em cada terreiro.
Em linhas gerais, é o médium que incorpora Orixás, Guias e Guardiões, os quais se acoplam à estrutura espiritual do aparelho ou cavalo, de modo a servirem de seu corpo físico para os trabalhos espirituais. Os médiuns rodantes, quanto à incorporação, podem ser inconscientes, conscientes ou semi-conscientes.
O desenvolvimento mediúnico desses médiuns (como de todos os outros) deve ser bastante disciplinado, orientado e supervisionado pelos Guias-chefes, bem como pelos Dirigentes Espirituais.
Há casas de Umbanda em que há, conforme os dons mediúnicos e suas responsabilidades, os chamados Ogãs de frente (com responsabilidades de segurança de gira, dentre outras funções), Ogã de corte (não necessariamente para sacrifício ritual, mas também para preparo de comidas de Santo) e outros.
ESTRUTURA
O TERREIRO
Nome genérico de um templo ou de uma tenda de Umbanda, também conhecido como congá.
PONTOS VIBRACIONAIS
Pontos-chave do templo, contribuindo para sua segurança e para sua vibração. Note-se que nem sempre um ponto chamado de casa é realmente uma construção desse quilate, porém um pequeno ou grande espaço estabelecido conforme a estrutura física do terreiro.
ASSENTAMENTO
Elementos da natureza (ex.: pedra) e objetos (ex.: moedas) que abrigam a força dinâmica de uma divindade. São consagrados e alojados em continentes (ex.: louça) e locais específicos.
FIRMEZA
Cada firmeza é uma forma de segurança nos rituais de Umbanda, conforme suas Leis. Acender uma vela, por exemplo, representa, significa e aciona muito mais energias do que possa parecer. Com uma firmeza, estreita-se a relação com os Orixás, Guias, Entidades, Guardiões e outros, além de proporcionar a eles campo de atuação mais específico. A firmeza não deve ser uma atitude mecânica, mas plena de fé, amor, devoção e consciência do que se está fazendo.
TRONQUEIRA
Trata-se de local de firmeza, logo à entrada do terreiro, para o Exu guardião da casa, mais conhecido como Exu da Porteira, pois seu nome verdadeiro só é conhecido pela alta hierarquia do terreiro.
ASSENTAMENTO DE OGUM DE RONDA
O assentamento de Ogum de Ronda é feito com o intuito de manter fora do terreiro energias deletérias, influências espirituais negativas. Em algumas casas também é chamado de tronqueira; em outras, com ela se confunde.
CASA DOS EXUS
Local dos assentamentos dos Exus dos médiuns, bem como de entregas, oferendas.
CASA DE OBALUAÊ
Local do assentamento de Obaluaê.
CRUZEIRO DAS ALMAS
Local para reverenciar e oferendar os Pretos-Velhos e acender velas para as almas. Há casas onde também se saúda Obaluaê, acendendo-lhe velas, no Cruzeiro das Almas.
QUARTINHA DE OXALÁ
Localizada acima da porta, ao lado do local se acendem velas para os anjos da guarda. Ponto de atração das energias de Oxalá, irradiadas para todos que aí passarem.
CASA DO CABOCLO
Local onde se homenageia o Caboclo fundador da casa, bem como onde se acendem velas para os Caboclos.
COZINHA
Local para o preparo de pratos ritualísticos e mesmo para cuidados gerais da casa. Alguns terreiros não dispõem de cozinha, sendo utilizada a da casa do Dirigente Espiritual ou de algum médium. Em linhas gerais, o uso ritualístico da cozinha pressupõe o mesmo respeito, o mesmo cuidado de outras cerimônias de Umbanda, como as giras, as entregas e outros: roupas apropriadas, padrão de pensamento específico e centramento necessário etc. Além disso, os médiuns devem ser cruzados para a cozinha e/ou estarem autorizados a nela trabalhar.
CENTRO DO TERREIRO
Uma das principais colunas energéticas do terreiro é seu centro (chão).
ARIAXÉ
Ao centro do terreiro, no alto. Trata-se de outra das colunas energéticas do terreiro.
CONGÁ
O altar em si, onde ficam imagens dos Orixás, seus otás (pedras especialmente preparadas e consagradas), suas oferendas, objetos litúrgicos e outros. Em algumas regiões, congá é também sinônimo de terreiro.
CASA DOS ORIXÁS
Local onde se mantém os assentamentos dos Orixás dos médiuns, bem como, por vezes, lhe são entregues oferendas.
PARA-RAIO
Local (sob o congá) para descarga de energias negativas que ocorram durante as sessões. O para-raio é composto de diversos elementos protegidos e encimados por uma barra de aço que perpassa uma tábua com ponto riscado de descarga. Numa casa em que, por exemplo, se usam bastões para limpeza de aura, os mesmos são descarregados no para-raio.
ATABAQUE E CORO
Em espaço previamente destinado ficam os atabaques, bem como o coro, o que se denomina de curimba (toque e canto). Embora todos os envolvidos na gira (médiuns da casa e assistência) sejam convidados a cantar os pontos, o papel do coro é fundamental para que se mantenha a vibração desejada.
ASSISTÊNCIA
A assistência é composta por pessoas que, regular ou esporadicamente, frequentam as giras. Podem ou não ser umbandistas. Algumas dessas pessoas costumam contribuir com doações para a manutenção do terreiro, festas, atividades assistenciais, etc. Para o bom andamento dos trabalhos, é muito importante que as pessoas da assistência mantenham o silêncio e o padrão de pensamento elevado, a despeito dos problemas pelos quais estejam passando. O mesmo vale para a participação nas preces e nos pontos cantados (voz e palmas). Com a assistência presente, vêm ao terreiro espíritos que tenham autorização para tanto: desencarnados, doentes em fase terminal, pessoas em desdobramento no momento do sono e outros. Todos são amorosamente atendidos e tratados pela Espiritualidade. Os espíritos que desejam apenas perturbar são barrados na entrada da casa e, conforme o caso, encaminhados para tratamento. Geralmente a assistência fica de frente para o altar. Entre ele e a assistência. Fica o corpo mediúnico da casa. Quem faz o tratamento numa casa de Umbanda não precisa necessariamente tornar-se umbandista: as portas estão sempre abertas a todos que desejam frequentar as giras, os tratamentos espirituais, as festas. A Umbanda não faz proselitismo. A decisão de se tornar umbandista e filiar-se a determinada casa é pessoal e atende, também, à identificação ou não dos Orixás com a casa em questão.
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LITURGIA
GIRAS
As giras são os trabalhos ritualísticos mais conhecidos de Umbanda. Variações à parte, costumam ter mais ou menos a mesma estrutura:
Firmeza para Exu;
Abertura;
Defumação;
Preces e saudações;
Atendimentos e/ou consultas e trabalhos propriamente ditos;
Encerramento
Geralmente todos esses momentos são acompanhados de pontos cantados (com ou sem o uso de palmas e atabaques, dependendo da orientação de cada terreiro).
Conhecidas também como sessões de caridade, as giras são pautadas pela alegria e pela conjugação entre respeito e informalidade, afinal, tanto a Espiritualidade quanto médiuns e consulentes literalmente se sentem em casa. Na maioria das giras, dentre as várias preces, costuma-se fazer a Prece das Cáritas, bem como cantar o Hino da Umbanda.
DEFUMAÇÕES
Uma das mais conhecidas formas de limpeza energética feitas na Umbanda, a defumação ocorre não apenas no início dos trabalhos (especialmente das giras), mas em outros locais e circunstâncias onde se fizer necessária.
As maneiras de se defumar um terreiro ou outro local variam (em casa ou local de trabalho, por exemplo, fazendo ou não um percurso em X em cada cômodo). Contudo, no caso de residência ou comércio, prevalece o hábito de se defumar dos fundos para a porta de entrada (limpeza) e da porta de entrada para os fundos (energização).
SACUDIMENTOS
Ritual de limpeza espiritual com o intuito de expulsar energias negativas de pessoa ou ambiente. Para tanto, empregam-se folhas fortes que são batidas na pessoa ou no ambiente (“surra”), pólvora queimada no local em que se realiza o ritual e, em algumas casas, comidas e aves em contato com a pessoa ou o ambiente, os quais serão posteriormente oferecidos aos Eguns (as aves soltas, vivas). O ritual é completado com banho, no caso de pessoa, e com a defumação do corpo ou do local do sacudimento.
TOQUES
Os atabaques mais conhecidos são, por influência dos Cultos de Nação, o Rum (maior e som mais grave), o Rumpi (que corresponde ao Rum) e o Lê (que acompanha o Rumpi). Contudo, na maioria das casas de Umbanda, há um tipo padrão de atabaque, e não essas variações.
São muito importantes, constituindo um dos fundamentos do Culto aos Orixás. Formatos, confecção, materiais e modos de tocar variam de acordo com as diversas Nações de Candomblé. Entretanto, tanto no Candomblé quanto na Umbanda, a hierarquia possui características mais ou menos semelhantes, sendo o Alabê o chefe dos Ogãs, isto é, músicos responsáveis pelo toque e pelo canto (curimba).
Cercados de cuidados especiais e respeito, na Umbanda os atabaques podem também ser tocados por mulheres, o que é bastante raro nos Cultos de Nação. Mesmo que na Umbanda alguns Ogãs também incorporem, quando estão tocando são médiuns de firmeza, grandes responsáveis pela vibração da gira.
Toques Mais Comuns para os Orixás:
Oxalá = bate-folha, cabula, ijexá
Ogum = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Xangô = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Oxóssi = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Omolu = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Logun-Edé = barravento, ijexá
Ossaim = barravento, cabula, congo, samba angola
Oxumaré = cabula, congo, ijexá
Oxum = cabula, congo, ijexá
Iansã = agerrê, barravento, cabula, congo de ouro, ijexá
Tempo= barravento, cabula, congo de ouro, ijexá
Iemanjá = cabula, ijexá
Nanã = cabula, congo, ijexá
PONTOS CANTADOS
Com diversas funções, os pontos cantados impregnam o ambiente de determinadas energias enquanto o libera de outras, representam imagens e traduzem sentimentos ligados a cada vibração, variando de Orixá para Orixá, Linha para Linha, circunstância para circunstância etc. Aliados ao toque e às palmas, o ponto cantado é um fundamento bastante importante na Umbanda e em seus rituais.
Em linhas gerais, dividem-se em pontos de raiz (trazidos pela Espiritualidade) e terrenos (elaborados pelos encarnados e apresentados à Espiritualidade, que os ratifica).
Há pontos cantados que migraram para a Música Popular Brasileira (MPB) e canções de MPB que são utilizados como pontos cantados em muitos templos.
Finalidade dos Pontos Cantados:
Pontos de abertura e de fechamento de trabalhos = Cantados no início e no final das sessões.
Pontos de boas-vindas = Cantados em saudação aos dirigentes de outras casas presentes em uma sessão, convidando-os para, caso desejem, ficarem junto ao corpo mediúnico.
Pontos de chegada e de despedida = Cantados para incorporações e desincorporações.
Pontos de consagração do congá = Cantados em homenagem aos Orixás e aos Guias responsáveis pela direção da casa.
Pontos de cruzemento de linhas e/ou falanges = Cantados para atrair mais de uma vibração ao mesmo tempo, a fim trabalharem conjuntamente.
Pontos de cruzamento de terreiro = Cantados quando o terreiro está sendo cruzado para início de sessão.
Pontos de defumação = Cantados durante a defumação.
Pontos contra demandas = Cantados quando, em incorporação, Guias e Guardiões acharem necessário.
Pontos de descarrego = Cantados quando são feitos descarregos.
Pontos de doutrinação = Cantados para encaminhar um espírito sofredor.
Pontos de firmeza = Cantados para fortalecer trabalho sendo feito.
Ponto de fluidificação = Cantados durante os passes ou quando algum elemento está sendo energizado.
Pontos de homenagem = Cantado para homenagear Orixás, Guias e Guardiões.
Pontos de segurança ou proteção = Cantados antes do trabalho (e antes dos pontos de firmeza) para proteger a corrente contra más influências.
Pontos de vibração = Cantados para atrair a vibração de determinado Orixá, Guia ou Guardião.
PONTOS RISCADOS
Muito mais do que meio de identificação de Orixás, Guias e Guardiões, os pontos riscados constituem fundamento de Umbanda, sendo instrumentos de trabalhos, riscados com pemba (giz), bordados em tecidos, etc. Funcionam como chaves, meios de comunicação entre os planos, proteção, tendo ainda, diversas outras funções, tanto no plano dos encarnados quanto no da Espiritualidade.
O ponto riscado de um determinado Caboclo Pena Branca, por exemplo, embora tenha elementos comuns, poderá diferir de outro Caboclo Pena Branca.
Elementos Comuns para diversos Orixás:
Iansã = Raio, taça
Ibejis = Brinquedos em geral, bonecos, carrinhos, pirulitos, etc.
Iemanjá = Âncora, estrelas, ondas, etc.
Nanã = Chave, ibiri
Obaluaê = Cruzeiro das almas
Ogum = Bandeira usada pelos cavaleiros, espada, instrumento de combate, lança
Oxalá = Representações da luz
Oxóssi = Arco e Flecha
Oxum = Coração, lua, etc.
Xangô = Machado
Exus e Pombogiras = Tridente
ERVAS
Fundamentais nos rituais de Umbanda para banhos, defumações, chás e outros, as ervas devem ser utilizadas com orientação da Espiritualidade e do Dirigente Espiritual.
Não apenas os nomes das ervas variam de região para região, de casa para casa, mas também as maneiras de selecioná-las, substituí-las, manipulá-las e prepará-las. Daí a necessidade de orientação e direcionamento para seu uso ritualístico.
BANHOS
A água, enquanto elemento de terapêutica espiritual, é empregada em diversas tradições espirituais e/ou religiosas. Na Umbanda, em poucas palavras, pode-se dizer que a indicação de banhos, as suas formas de preparo, sua ritualística, os cuidados, a coleta ou a compra de folhas, dentre tantos outros aspectos, deem ser orientados pela Espiritualidade e/ou pela Direção Espiritual de uma casa. As variações são muitas, contudo, procuram atender a formas específicas de trabalhos, bem como aos fundamentos da Umbanda.
Abaixo, um quadro sintético dos tipos mais comuns de banhos empregados na Umbanda:
Banhos de descarga/descarrego = Servem para livrar a pessoa de energias deletérias, de modo a reequilibrá-la. Pode ser de ervas ou de sal grosso, podendo, ainda, serem acrescidos outros elementos.
Banho de descarga com ervas = Para esse banho, são recomendadas ervas de acordo com cada necessidade. Após o banho as ervas devem ser recolhidas e despachadas na natureza ou em água corrente. Depois dele, aconselha-se um banho de energização.
Banho de sal grosso = Banho de limpeza energética, do pescoço para baixo,depois do qual devem ser feitos banhos de energização, a fim de se equilibrarem as energias (visto que, além de retirar as energias negativas, também se descarregam as positivas). Alguns o substituem pelo próprio banho de mar.
Banhos de energização = Ativam as energias dos Orixás e Guias, afinando-as com as daquele que toma os banhos. Melhoram, portanto, a sintonia com a Espiritualidade, ativam e revitalizam funções psíquicas, melhoram a incorporação, etc.
Amaci = Banho mais comum, da cabeça aos pés, ou só de cabeça, orientado por Entidades ou pelo Guia-chefe do Dirigente Espiritual. Existem também amacis periódicos para o corpo mediúnico, que ritualisticamente o toma.
Banho natural de cachoeira = Possui a mesma função dos banhos de mar, porém em água doce. O choque provocado pela queda d´água limpa e energiza. Melhor ainda quando feito em cachoeiras próximas das matas e sob o sol.
Banho natural de chuva = Promovendo limpeza de grande força, é associado ao Orixá Nanã.
Banho natural de mar = Muito bom para descarregos e energização, em especial sob a vibração de Iemanjá.
Banho de pipoca = Na vibração de Obaluaê.
BEBIDAS
Orixás, Guias e Guardiões têm bebidas próprias, algumas delas alcoólicas.
O álcool serve de verdadeiro combustível para a magia, além de limpar e descarregar, seja organismos ou pontos de pemba ou pólora, por exemplo. Ingerido sem a influência do animismo, permanece em quantidade reduzida no organismo do médium e mesmo do consulente.
Por diversas circunstâncias, tais como disciplina, para médiuns menores de idade e/ou que não consumam álcool ou lhes tenham intolerância, seus Orixás, Guias e Guardiões não consumirão álcool.
Em algumas casas, o álcool é utilizado apenas em oferendas ou deixado próximo ao médium incorporado.
FUMO
A função primeira do fumo é defumar (por isso, exceções à parte, a maioria dos Guias e Guardiões não tragam: enchem a boca de fumaça, expelindo-a no ar, sobre o consulente, uma foto etc.). Por essa razão, se o terreiro for defumado e for mantido aceso algum defumador durante os trabalhos, há Guias e Guardiões que nem se utilizam do fumo. O mesmo vale quando o médium não é fumante ou não aprecia cigarros, charutos e outros.
Cada Orixá, Linha, Guia ou Guardião que se utiliza do fumo tem características próprias, entretanto, o cigarro parece ser um elemento comum para todos, embora muitas casas não os tenha mais permitido, em virtude das substâncias viciantes, aceitando apenas charutos, charutinhos, cachimbos e palheiros (cigarros de palha), conforme cada Entidade ou Linha.
O fumo desagrega energias deletérias e é fonte de energias positivas, atuando em pessoas, ambientes e outros.
UNIFORMES
Direita = A roupa branca representa Oxalá, a pureza. Geralmente as casas adotam uniformes, para que seus membros não se vistam cada qual de uma forma diferente: calças e camisas brancas para homens e saias, calças e camisas brancas para mulheres. Algumas casas apresentam outros elementos que definem a hierarquia da casa, em especial Babá, Pai-pequeno ou Mãe-pequena, Seguranças de canto e porta (Torso, tecido diferenciado, etc.). Existem também casas que optam por homenagear diretamente seu Orixá patrono por meio do uniforme. Dessa forma, num templo cujo Orixá chefe é
Ogum têm-se médiuns com calça branca e camisa vermelha. Os pés podem estar descalços por humildade, contato com o solo ou com folhas. Ou calçados, geralmente por proteção energética ou em razão de padrão de vestimenta da casa.
Esquerda = Para os Exus, calça e camisa. Para as Pombogiras, saia e camisa. As cores utilizadas são preto e vermelho, ou apenas preto. A maioria das casas, assim como no caso da roupa da Direita, utiliza-se de uniforme, a fim de não haver exageros, personalismos, inadequações para o ambiente etc.
GUIAS
Também conhecidas como fios de contas, colares de santo ou cordões de santo, as guias são preparadas pelo Dirigente Espiritual, ou por auxiliares e cruzadas. Há uma grande variabilidade de materiais utilizados para as guias, bem como em sua composição (números, cores etc.) conforme a casa, os Orixás e Guias a que são consagradas. Uma das guias mais comuns é a de proteção, na cor do Orixá de cabeça, ou branca, de Oxalá, podendo ser usada por dentro da roupa ou por fora, conforme orientação específica de cada casa. Também há guias de Esquerda.
Ao longo de seu desenvolvimento na Umbanda, um médium terá diversas guias, as quais devem ser bem cuidadas, limpas e lavadas periodicamente conforme orientação da Espiritualidade e do Dirigente Espiritual. Quando uma guia se quebra, deve-se tentar recuperar o maior número possível de contas para que seja remontada e novamente consagrada ou cruzada.
As guias também identificam os Orixás (em especial o Eledá) dos médiuns. São utilizadas nas giras, em diversos trabalhos, comemorações e outros.
O brajá, outra guia comum na Umbanda, é um colar de longos fios montados de dois em dois, em pares opostos, para serem usados a tiracolo e cruzando o peito e as costas. Simboliza a inter-relação do direito com o esquerdo, do masculino com o feminino, do passado e do presente.
Dirigentes Espirituais costumam usar uma espécie de brajá, com as cores de seu Orixá de Cabeça, de búzios ou com as cores de seu Guia de Cabeça (Caboclo ou Preto-Velho).
VELAS
O fogo e a vela estão presentes em rituais de diersas tradições espirituais e/ou religiosas. O mesmo acontece com a Umbanda, para a qual a vela acesa constitui-se num ponto de convergência da atenção dos médiuns, consulentes e outros. A vela reforça a energia, a conexão, o desejo, além de fomentar a energia da vida (ígnea).
Ajuda a dissipar energias deletérias e, portanto abre espaço para que as energias positivas se instaurem e/ou permaneçam no ambiente.
O material “ideal” de uma vela é a cera de abelha, pois trás em si os quatro elementos: o fogo (chama), a terra e a água (a própria cera) e o ar (aquecido). Há diversos formatos, materiais, tamanhos, decorações adicionais e outros. Além disso, por exemplo, na ritualística de cada terreiro, é possível encontrar orientações para que as velas sejam acesas com fósforos ou isqueiros. Variações à parte, o uso de velas é bastante importante nos fundamentos e nas práticas umbandistas.
Cores Mais Comuns na Umbanda:
Oxalá = Branca
Iemanjá = Azul claro
Oxum = Azul Royal
Iansã = Amarela
Obá = Vermelha ou magenta
Xangô = Marrom
Ogum = Vermelha
Oxóssi = Verde
Ossaim = Verde e branca
Obaluaê = Amarela ou preta e branca
Pretos-Velhos = Preta e branca
Crianças = Rosa e/ou azul
Caboclos = Verde
Boiadeiros = Amarela
Marinheiros = Azul claro
Baianos = Amarela
Ciganos = Azul claro ou rosa para Santa Sara; Pode haver variações.
Exus = Preta e vermelha
Pombogiras = Preta e vermelha
A vela branca pode substituir as demais.
OBRIGAÇÕES
Cada vez mais se consideram as obrigações não apenas como um compromisso, mas, literalmente, como uma maneira de dizer obrigado(a).
Em linhas gerais, as obrigações se constituem em oferendas feitas para, dentre outros, agradecer, fazer pedidos, reocnciliar-se, isto é, reequilibrar a própria energia com as energias dos Orixás. Os elementos oferendados, em sintonia com as energias de cada Orixá, serão utilizados por eles como coombustíveis ou repositores energéticos para ações mágicas (da mesma forma que o álcool, o alimento e o fumo utilizados quando o médium está incorporado). Daí a importância de cada elemento ser escolhido com amor, qualidade, deoção e pensamento adequado.
Existem obrigações menores e maiores, variando de terreiro para terreiro, periódicas ou solicitadas de acordo com as circunstâncias, conforme o tempo de desenvolvimento mediúnico e a responsabilidade de cada um com seus Orixás, com sua coroa, como no caso da saída (quando o médium deixa o recolhimento e, após período de preparação, apresenta solenemente seu Orixá, ou é, por exemplo, apresentado como sacerdote ou Ogã) e outros. Embora cada casa siga um núcleo comum de obrigações fixadas e de elementos para cada uma delas, dependendo de seu destinatário, há uma variação grande de cores, objetos e características. Portanto, para se evitar o uso de elementos incompatíveis para os Orixás, há que se dialogar com a Espiritualidade e com os Dirigentes Espirituais, a fim de que tudo seja corretamente empregado ou, conforme as circunstâncias, algo seja substituído.
Para diversos rituais da Umbanda, inclusive as giras, pede-se, além de uma alimentação leve, a abstenção de álcool e que se mantenha o “corpo limpo” (expressão utilizada em muitos terreiros e que representa abstenção de relações sexuais). No caso da abstenção de álcool, o objetivo é manter a consciência desperta e não permitir abrir brechas para espíritos e energias com vibrações deletérias. No tocante à abstenção sexual, a expressão “corpo limpo” não significa que o sexo seja algo sujo ou pecaminoso: em toda e qualquer relação, mesmo a mais saudável, existe uma troca energética; o objetivo da abstenção, portanto, é que o médium mantenha concentrada a própria energia e não se deixe envoler, ao menos momentaneamente, pela energia de outra pessoa, em troca íntima.
O período dessas abstenções varia de casa para casa, mas geralmente é de um dia (pode ser da meia-noite do dia do trabalho até a próxima meia-noite, ou do meio-dia do dia anterior do trabalho até o meio-dia seguinte ao trabalho, etc.). Há períodos maiores de abstenções chamados de preceitos ou resguardos.
Em casos de banhos e determinados trabalhos, além de época de preceitos e resguardos, também há dieta alimentar específica, além de cores de vestuário que devem ser evitadas (salvo excessões como de uniformes de trabalho, por exemplo).
(continua...)
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O LIVRO ESSENCIAL DE UMBANDA (De: Ademir Barbosa Júnior, EDITORA: UNIVERSO DOS LIVROS)
HIERARQUIA
A hierarquia na Umbanda não é tão escalonada como, por exemplo, no Candomblé. Sob a responsabilidade dos Dirigentes Espirituais (Babás e Pai-pequeno e/ou Mãe-pequena), estão os médiuns de incorporação, os Ogãs e cambones. Alguns filhos têm funções bem específicas (como os seguranças de canto e porta, os quais, hierarquicamente, estão abaixo do Pai-pequeno e/ou da Mãe-pequena), sem que haja gradações hierárquicas entre eles, mas sim coordenação de responsabilidade.
O(a) Babá é o(a) Dirigente Espiritual. O termo se refere tanto ao Pai quanto à Mãe da casa, embora, originalmente, no Canbomblé, Babalorixá (também empregado em algumas casas de Umbanda) se referisse aos homens, enquanto Ialorixá, às mulheres.
Popularmente também se usa o vocábulo “Babalaô”, ainda que, em sua origem e no contexto dos cultos de Nação, Babalaô seja especificamente o sacerdote de Ifá.
Assim como há casas de Candomblé cuja direção espiritual é confiada a um Ogã, há templos de Umbanda onde o Dirigente Espiritual não é um médium de incorporação. Em ambos os casos, o Dirigente é secundado por um médium rodante.
A direção espiritual da casa é confiada a alguém pela própria Espiritualidade, não bastando os cursos de formação em Teologia de Umbanda, ou mesmo graduação nessa área. Por determinação da Espiritualidade, um filho de fé pode ser designado a participar de um processo de iniciação para o sacerdócio (geralmente mais breve que do que no Candomblé), com preparação específica (recolhimento, obrigações e outros), ou então o guia de frente (no caso de um filho que pertença ou não à Umbanda, mas tenha mediunidade ostensiva e compromisso espiritual com a Umbanda nesta encarnação) assume a preparação desse filho para a abertura de uma casa, podendo ou não indicá-lo para um processo de preparação com outro(a) Babá.
Na direção espiritual da casa, conta-se ainda com o Pai-pequeno e/ou com a Mãe-pequena, auxiliares diretos do(a) Babá e, em sua ausência, substitutos.
O Ogã na Umbanda relaciona-se à curimba, dedicando-se ao toque e ao canto. Muitas das atribuições dos Ogãs nos Cultos de Nação são atribuídas na Umbanda aos cambones.
Muitos Ogãs, desde crianças, demonstram incrível habilidade para o toque, aperfeiçoando o dom no dia a dia do terreiro. Contudo, também existem cursos especializados para todos aqueles, homens e mulheres, que desejem aprender a tocar e cantar pontos de Umbanda, podendo ou não atuar num terreiro.
O Ogã é um médium de sustentação, de firmeza durante os rituais, atento ao mandamento da gira, a fim de, por meio do toque e do canto, manter a vibração necessária e desejada. Em algumas casas, o Ogã também é médium de incorporação, dedicando-se a ambas as atividades (em especial nas casas em que existam poucos médiuns), ou à curimba, incorporando apenas em determinadas ocasiões.
Cambone é o médium de firmeza encarregado de, dentre várias funções, auxiliar os médiuns e a Espiritualidade incorporada, bem como fazer anotações, cuidar de detalhes da organização do terreiro, dar explicações e assistência aos consulentes. Pode ou não incorporar. Alguns cambones são médiuns de desenvolvimento que auxiliam nos cuidados da gira. Geralmente há um cambone-chefe em cada terreiro.
Em linhas gerais, é o médium que incorpora Orixás, Guias e Guardiões, os quais se acoplam à estrutura espiritual do aparelho ou cavalo, de modo a servirem de seu corpo físico para os trabalhos espirituais. Os médiuns rodantes, quanto à incorporação, podem ser inconscientes, conscientes ou semi-conscientes.
O desenvolvimento mediúnico desses médiuns (como de todos os outros) deve ser bastante disciplinado, orientado e supervisionado pelos Guias-chefes, bem como pelos Dirigentes Espirituais.
Há casas de Umbanda em que há, conforme os dons mediúnicos e suas responsabilidades, os chamados Ogãs de frente (com responsabilidades de segurança de gira, dentre outras funções), Ogã de corte (não necessariamente para sacrifício ritual, mas também para preparo de comidas de Santo) e outros.
ESTRUTURA
O TERREIRO
Nome genérico de um templo ou de uma tenda de Umbanda, também conhecido como congá.
PONTOS VIBRACIONAIS
Pontos-chave do templo, contribuindo para sua segurança e para sua vibração. Note-se que nem sempre um ponto chamado de casa é realmente uma construção desse quilate, porém um pequeno ou grande espaço estabelecido conforme a estrutura física do terreiro.
ASSENTAMENTO
Elementos da natureza (ex.: pedra) e objetos (ex.: moedas) que abrigam a força dinâmica de uma divindade. São consagrados e alojados em continentes (ex.: louça) e locais específicos.
FIRMEZA
Cada firmeza é uma forma de segurança nos rituais de Umbanda, conforme suas Leis. Acender uma vela, por exemplo, representa, significa e aciona muito mais energias do que possa parecer. Com uma firmeza, estreita-se a relação com os Orixás, Guias, Entidades, Guardiões e outros, além de proporcionar a eles campo de atuação mais específico. A firmeza não deve ser uma atitude mecânica, mas plena de fé, amor, devoção e consciência do que se está fazendo.
TRONQUEIRA
Trata-se de local de firmeza, logo à entrada do terreiro, para o Exu guardião da casa, mais conhecido como Exu da Porteira, pois seu nome verdadeiro só é conhecido pela alta hierarquia do terreiro.
ASSENTAMENTO DE OGUM DE RONDA
O assentamento de Ogum de Ronda é feito com o intuito de manter fora do terreiro energias deletérias, influências espirituais negativas. Em algumas casas também é chamado de tronqueira; em outras, com ela se confunde.
CASA DOS EXUS
Local dos assentamentos dos Exus dos médiuns, bem como de entregas, oferendas.
CASA DE OBALUAÊ
Local do assentamento de Obaluaê.
CRUZEIRO DAS ALMAS
Local para reverenciar e oferendar os Pretos-Velhos e acender velas para as almas. Há casas onde também se saúda Obaluaê, acendendo-lhe velas, no Cruzeiro das Almas.
QUARTINHA DE OXALÁ
Localizada acima da porta, ao lado do local se acendem velas para os anjos da guarda. Ponto de atração das energias de Oxalá, irradiadas para todos que aí passarem.
CASA DO CABOCLO
Local onde se homenageia o Caboclo fundador da casa, bem como onde se acendem velas para os Caboclos.
COZINHA
Local para o preparo de pratos ritualísticos e mesmo para cuidados gerais da casa. Alguns terreiros não dispõem de cozinha, sendo utilizada a da casa do Dirigente Espiritual ou de algum médium. Em linhas gerais, o uso ritualístico da cozinha pressupõe o mesmo respeito, o mesmo cuidado de outras cerimônias de Umbanda, como as giras, as entregas e outros: roupas apropriadas, padrão de pensamento específico e centramento necessário etc. Além disso, os médiuns devem ser cruzados para a cozinha e/ou estarem autorizados a nela trabalhar.
CENTRO DO TERREIRO
Uma das principais colunas energéticas do terreiro é seu centro (chão).
ARIAXÉ
Ao centro do terreiro, no alto. Trata-se de outra das colunas energéticas do terreiro.
CONGÁ
O altar em si, onde ficam imagens dos Orixás, seus otás (pedras especialmente preparadas e consagradas), suas oferendas, objetos litúrgicos e outros. Em algumas regiões, congá é também sinônimo de terreiro.
CASA DOS ORIXÁS
Local onde se mantém os assentamentos dos Orixás dos médiuns, bem como, por vezes, lhe são entregues oferendas.
PARA-RAIO
Local (sob o congá) para descarga de energias negativas que ocorram durante as sessões. O para-raio é composto de diversos elementos protegidos e encimados por uma barra de aço que perpassa uma tábua com ponto riscado de descarga. Numa casa em que, por exemplo, se usam bastões para limpeza de aura, os mesmos são descarregados no para-raio.
ATABAQUE E CORO
Em espaço previamente destinado ficam os atabaques, bem como o coro, o que se denomina de curimba (toque e canto). Embora todos os envolvidos na gira (médiuns da casa e assistência) sejam convidados a cantar os pontos, o papel do coro é fundamental para que se mantenha a vibração desejada.
ASSISTÊNCIA
A assistência é composta por pessoas que, regular ou esporadicamente, frequentam as giras. Podem ou não ser umbandistas. Algumas dessas pessoas costumam contribuir com doações para a manutenção do terreiro, festas, atividades assistenciais, etc. Para o bom andamento dos trabalhos, é muito importante que as pessoas da assistência mantenham o silêncio e o padrão de pensamento elevado, a despeito dos problemas pelos quais estejam passando. O mesmo vale para a participação nas preces e nos pontos cantados (voz e palmas). Com a assistência presente, vêm ao terreiro espíritos que tenham autorização para tanto: desencarnados, doentes em fase terminal, pessoas em desdobramento no momento do sono e outros. Todos são amorosamente atendidos e tratados pela Espiritualidade. Os espíritos que desejam apenas perturbar são barrados na entrada da casa e, conforme o caso, encaminhados para tratamento. Geralmente a assistência fica de frente para o altar. Entre ele e a assistência. Fica o corpo mediúnico da casa. Quem faz o tratamento numa casa de Umbanda não precisa necessariamente tornar-se umbandista: as portas estão sempre abertas a todos que desejam frequentar as giras, os tratamentos espirituais, as festas. A Umbanda não faz proselitismo. A decisão de se tornar umbandista e filiar-se a determinada casa é pessoal e atende, também, à identificação ou não dos Orixás com a casa em questão.
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LITURGIA
GIRAS
As giras são os trabalhos ritualísticos mais conhecidos de Umbanda. Variações à parte, costumam ter mais ou menos a mesma estrutura:
Firmeza para Exu;
Abertura;
Defumação;
Preces e saudações;
Atendimentos e/ou consultas e trabalhos propriamente ditos;
Encerramento
Geralmente todos esses momentos são acompanhados de pontos cantados (com ou sem o uso de palmas e atabaques, dependendo da orientação de cada terreiro).
Conhecidas também como sessões de caridade, as giras são pautadas pela alegria e pela conjugação entre respeito e informalidade, afinal, tanto a Espiritualidade quanto médiuns e consulentes literalmente se sentem em casa. Na maioria das giras, dentre as várias preces, costuma-se fazer a Prece das Cáritas, bem como cantar o Hino da Umbanda.
DEFUMAÇÕES
Uma das mais conhecidas formas de limpeza energética feitas na Umbanda, a defumação ocorre não apenas no início dos trabalhos (especialmente das giras), mas em outros locais e circunstâncias onde se fizer necessária.
As maneiras de se defumar um terreiro ou outro local variam (em casa ou local de trabalho, por exemplo, fazendo ou não um percurso em X em cada cômodo). Contudo, no caso de residência ou comércio, prevalece o hábito de se defumar dos fundos para a porta de entrada (limpeza) e da porta de entrada para os fundos (energização).
SACUDIMENTOS
Ritual de limpeza espiritual com o intuito de expulsar energias negativas de pessoa ou ambiente. Para tanto, empregam-se folhas fortes que são batidas na pessoa ou no ambiente (“surra”), pólvora queimada no local em que se realiza o ritual e, em algumas casas, comidas e aves em contato com a pessoa ou o ambiente, os quais serão posteriormente oferecidos aos Eguns (as aves soltas, vivas). O ritual é completado com banho, no caso de pessoa, e com a defumação do corpo ou do local do sacudimento.
TOQUES
Os atabaques mais conhecidos são, por influência dos Cultos de Nação, o Rum (maior e som mais grave), o Rumpi (que corresponde ao Rum) e o Lê (que acompanha o Rumpi). Contudo, na maioria das casas de Umbanda, há um tipo padrão de atabaque, e não essas variações.
São muito importantes, constituindo um dos fundamentos do Culto aos Orixás. Formatos, confecção, materiais e modos de tocar variam de acordo com as diversas Nações de Candomblé. Entretanto, tanto no Candomblé quanto na Umbanda, a hierarquia possui características mais ou menos semelhantes, sendo o Alabê o chefe dos Ogãs, isto é, músicos responsáveis pelo toque e pelo canto (curimba).
Cercados de cuidados especiais e respeito, na Umbanda os atabaques podem também ser tocados por mulheres, o que é bastante raro nos Cultos de Nação. Mesmo que na Umbanda alguns Ogãs também incorporem, quando estão tocando são médiuns de firmeza, grandes responsáveis pela vibração da gira.
Toques Mais Comuns para os Orixás:
Oxalá = bate-folha, cabula, ijexá
Ogum = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Xangô = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Oxóssi = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Omolu = barravento, cabula, congo de ouro, ijexá, muxicongo
Logun-Edé = barravento, ijexá
Ossaim = barravento, cabula, congo, samba angola
Oxumaré = cabula, congo, ijexá
Oxum = cabula, congo, ijexá
Iansã = agerrê, barravento, cabula, congo de ouro, ijexá
Tempo= barravento, cabula, congo de ouro, ijexá
Iemanjá = cabula, ijexá
Nanã = cabula, congo, ijexá
PONTOS CANTADOS
Com diversas funções, os pontos cantados impregnam o ambiente de determinadas energias enquanto o libera de outras, representam imagens e traduzem sentimentos ligados a cada vibração, variando de Orixá para Orixá, Linha para Linha, circunstância para circunstância etc. Aliados ao toque e às palmas, o ponto cantado é um fundamento bastante importante na Umbanda e em seus rituais.
Em linhas gerais, dividem-se em pontos de raiz (trazidos pela Espiritualidade) e terrenos (elaborados pelos encarnados e apresentados à Espiritualidade, que os ratifica).
Há pontos cantados que migraram para a Música Popular Brasileira (MPB) e canções de MPB que são utilizados como pontos cantados em muitos templos.
Finalidade dos Pontos Cantados:
Pontos de abertura e de fechamento de trabalhos = Cantados no início e no final das sessões.
Pontos de boas-vindas = Cantados em saudação aos dirigentes de outras casas presentes em uma sessão, convidando-os para, caso desejem, ficarem junto ao corpo mediúnico.
Pontos de chegada e de despedida = Cantados para incorporações e desincorporações.
Pontos de consagração do congá = Cantados em homenagem aos Orixás e aos Guias responsáveis pela direção da casa.
Pontos de cruzemento de linhas e/ou falanges = Cantados para atrair mais de uma vibração ao mesmo tempo, a fim trabalharem conjuntamente.
Pontos de cruzamento de terreiro = Cantados quando o terreiro está sendo cruzado para início de sessão.
Pontos de defumação = Cantados durante a defumação.
Pontos contra demandas = Cantados quando, em incorporação, Guias e Guardiões acharem necessário.
Pontos de descarrego = Cantados quando são feitos descarregos.
Pontos de doutrinação = Cantados para encaminhar um espírito sofredor.
Pontos de firmeza = Cantados para fortalecer trabalho sendo feito.
Ponto de fluidificação = Cantados durante os passes ou quando algum elemento está sendo energizado.
Pontos de homenagem = Cantado para homenagear Orixás, Guias e Guardiões.
Pontos de segurança ou proteção = Cantados antes do trabalho (e antes dos pontos de firmeza) para proteger a corrente contra más influências.
Pontos de vibração = Cantados para atrair a vibração de determinado Orixá, Guia ou Guardião.
PONTOS RISCADOS
Muito mais do que meio de identificação de Orixás, Guias e Guardiões, os pontos riscados constituem fundamento de Umbanda, sendo instrumentos de trabalhos, riscados com pemba (giz), bordados em tecidos, etc. Funcionam como chaves, meios de comunicação entre os planos, proteção, tendo ainda, diversas outras funções, tanto no plano dos encarnados quanto no da Espiritualidade.
O ponto riscado de um determinado Caboclo Pena Branca, por exemplo, embora tenha elementos comuns, poderá diferir de outro Caboclo Pena Branca.
Elementos Comuns para diversos Orixás:
Iansã = Raio, taça
Ibejis = Brinquedos em geral, bonecos, carrinhos, pirulitos, etc.
Iemanjá = Âncora, estrelas, ondas, etc.
Nanã = Chave, ibiri
Obaluaê = Cruzeiro das almas
Ogum = Bandeira usada pelos cavaleiros, espada, instrumento de combate, lança
Oxalá = Representações da luz
Oxóssi = Arco e Flecha
Oxum = Coração, lua, etc.
Xangô = Machado
Exus e Pombogiras = Tridente
ERVAS
Fundamentais nos rituais de Umbanda para banhos, defumações, chás e outros, as ervas devem ser utilizadas com orientação da Espiritualidade e do Dirigente Espiritual.
Não apenas os nomes das ervas variam de região para região, de casa para casa, mas também as maneiras de selecioná-las, substituí-las, manipulá-las e prepará-las. Daí a necessidade de orientação e direcionamento para seu uso ritualístico.
BANHOS
A água, enquanto elemento de terapêutica espiritual, é empregada em diversas tradições espirituais e/ou religiosas. Na Umbanda, em poucas palavras, pode-se dizer que a indicação de banhos, as suas formas de preparo, sua ritualística, os cuidados, a coleta ou a compra de folhas, dentre tantos outros aspectos, deem ser orientados pela Espiritualidade e/ou pela Direção Espiritual de uma casa. As variações são muitas, contudo, procuram atender a formas específicas de trabalhos, bem como aos fundamentos da Umbanda.
Abaixo, um quadro sintético dos tipos mais comuns de banhos empregados na Umbanda:
Banhos de descarga/descarrego = Servem para livrar a pessoa de energias deletérias, de modo a reequilibrá-la. Pode ser de ervas ou de sal grosso, podendo, ainda, serem acrescidos outros elementos.
Banho de descarga com ervas = Para esse banho, são recomendadas ervas de acordo com cada necessidade. Após o banho as ervas devem ser recolhidas e despachadas na natureza ou em água corrente. Depois dele, aconselha-se um banho de energização.
Banho de sal grosso = Banho de limpeza energética, do pescoço para baixo,depois do qual devem ser feitos banhos de energização, a fim de se equilibrarem as energias (visto que, além de retirar as energias negativas, também se descarregam as positivas). Alguns o substituem pelo próprio banho de mar.
Banhos de energização = Ativam as energias dos Orixás e Guias, afinando-as com as daquele que toma os banhos. Melhoram, portanto, a sintonia com a Espiritualidade, ativam e revitalizam funções psíquicas, melhoram a incorporação, etc.
Amaci = Banho mais comum, da cabeça aos pés, ou só de cabeça, orientado por Entidades ou pelo Guia-chefe do Dirigente Espiritual. Existem também amacis periódicos para o corpo mediúnico, que ritualisticamente o toma.
Banho natural de cachoeira = Possui a mesma função dos banhos de mar, porém em água doce. O choque provocado pela queda d´água limpa e energiza. Melhor ainda quando feito em cachoeiras próximas das matas e sob o sol.
Banho natural de chuva = Promovendo limpeza de grande força, é associado ao Orixá Nanã.
Banho natural de mar = Muito bom para descarregos e energização, em especial sob a vibração de Iemanjá.
Banho de pipoca = Na vibração de Obaluaê.
BEBIDAS
Orixás, Guias e Guardiões têm bebidas próprias, algumas delas alcoólicas.
O álcool serve de verdadeiro combustível para a magia, além de limpar e descarregar, seja organismos ou pontos de pemba ou pólora, por exemplo. Ingerido sem a influência do animismo, permanece em quantidade reduzida no organismo do médium e mesmo do consulente.
Por diversas circunstâncias, tais como disciplina, para médiuns menores de idade e/ou que não consumam álcool ou lhes tenham intolerância, seus Orixás, Guias e Guardiões não consumirão álcool.
Em algumas casas, o álcool é utilizado apenas em oferendas ou deixado próximo ao médium incorporado.
FUMO
A função primeira do fumo é defumar (por isso, exceções à parte, a maioria dos Guias e Guardiões não tragam: enchem a boca de fumaça, expelindo-a no ar, sobre o consulente, uma foto etc.). Por essa razão, se o terreiro for defumado e for mantido aceso algum defumador durante os trabalhos, há Guias e Guardiões que nem se utilizam do fumo. O mesmo vale quando o médium não é fumante ou não aprecia cigarros, charutos e outros.
Cada Orixá, Linha, Guia ou Guardião que se utiliza do fumo tem características próprias, entretanto, o cigarro parece ser um elemento comum para todos, embora muitas casas não os tenha mais permitido, em virtude das substâncias viciantes, aceitando apenas charutos, charutinhos, cachimbos e palheiros (cigarros de palha), conforme cada Entidade ou Linha.
O fumo desagrega energias deletérias e é fonte de energias positivas, atuando em pessoas, ambientes e outros.
UNIFORMES
Direita = A roupa branca representa Oxalá, a pureza. Geralmente as casas adotam uniformes, para que seus membros não se vistam cada qual de uma forma diferente: calças e camisas brancas para homens e saias, calças e camisas brancas para mulheres. Algumas casas apresentam outros elementos que definem a hierarquia da casa, em especial Babá, Pai-pequeno ou Mãe-pequena, Seguranças de canto e porta (Torso, tecido diferenciado, etc.). Existem também casas que optam por homenagear diretamente seu Orixá patrono por meio do uniforme. Dessa forma, num templo cujo Orixá chefe é
Ogum têm-se médiuns com calça branca e camisa vermelha. Os pés podem estar descalços por humildade, contato com o solo ou com folhas. Ou calçados, geralmente por proteção energética ou em razão de padrão de vestimenta da casa.
Esquerda = Para os Exus, calça e camisa. Para as Pombogiras, saia e camisa. As cores utilizadas são preto e vermelho, ou apenas preto. A maioria das casas, assim como no caso da roupa da Direita, utiliza-se de uniforme, a fim de não haver exageros, personalismos, inadequações para o ambiente etc.
GUIAS
Também conhecidas como fios de contas, colares de santo ou cordões de santo, as guias são preparadas pelo Dirigente Espiritual, ou por auxiliares e cruzadas. Há uma grande variabilidade de materiais utilizados para as guias, bem como em sua composição (números, cores etc.) conforme a casa, os Orixás e Guias a que são consagradas. Uma das guias mais comuns é a de proteção, na cor do Orixá de cabeça, ou branca, de Oxalá, podendo ser usada por dentro da roupa ou por fora, conforme orientação específica de cada casa. Também há guias de Esquerda.
Ao longo de seu desenvolvimento na Umbanda, um médium terá diversas guias, as quais devem ser bem cuidadas, limpas e lavadas periodicamente conforme orientação da Espiritualidade e do Dirigente Espiritual. Quando uma guia se quebra, deve-se tentar recuperar o maior número possível de contas para que seja remontada e novamente consagrada ou cruzada.
As guias também identificam os Orixás (em especial o Eledá) dos médiuns. São utilizadas nas giras, em diversos trabalhos, comemorações e outros.
O brajá, outra guia comum na Umbanda, é um colar de longos fios montados de dois em dois, em pares opostos, para serem usados a tiracolo e cruzando o peito e as costas. Simboliza a inter-relação do direito com o esquerdo, do masculino com o feminino, do passado e do presente.
Dirigentes Espirituais costumam usar uma espécie de brajá, com as cores de seu Orixá de Cabeça, de búzios ou com as cores de seu Guia de Cabeça (Caboclo ou Preto-Velho).
VELAS
O fogo e a vela estão presentes em rituais de diersas tradições espirituais e/ou religiosas. O mesmo acontece com a Umbanda, para a qual a vela acesa constitui-se num ponto de convergência da atenção dos médiuns, consulentes e outros. A vela reforça a energia, a conexão, o desejo, além de fomentar a energia da vida (ígnea).
Ajuda a dissipar energias deletérias e, portanto abre espaço para que as energias positivas se instaurem e/ou permaneçam no ambiente.
O material “ideal” de uma vela é a cera de abelha, pois trás em si os quatro elementos: o fogo (chama), a terra e a água (a própria cera) e o ar (aquecido). Há diversos formatos, materiais, tamanhos, decorações adicionais e outros. Além disso, por exemplo, na ritualística de cada terreiro, é possível encontrar orientações para que as velas sejam acesas com fósforos ou isqueiros. Variações à parte, o uso de velas é bastante importante nos fundamentos e nas práticas umbandistas.
Cores Mais Comuns na Umbanda:
Oxalá = Branca
Iemanjá = Azul claro
Oxum = Azul Royal
Iansã = Amarela
Obá = Vermelha ou magenta
Xangô = Marrom
Ogum = Vermelha
Oxóssi = Verde
Ossaim = Verde e branca
Obaluaê = Amarela ou preta e branca
Pretos-Velhos = Preta e branca
Crianças = Rosa e/ou azul
Caboclos = Verde
Boiadeiros = Amarela
Marinheiros = Azul claro
Baianos = Amarela
Ciganos = Azul claro ou rosa para Santa Sara; Pode haver variações.
Exus = Preta e vermelha
Pombogiras = Preta e vermelha
A vela branca pode substituir as demais.
OBRIGAÇÕES
Cada vez mais se consideram as obrigações não apenas como um compromisso, mas, literalmente, como uma maneira de dizer obrigado(a).
Em linhas gerais, as obrigações se constituem em oferendas feitas para, dentre outros, agradecer, fazer pedidos, reocnciliar-se, isto é, reequilibrar a própria energia com as energias dos Orixás. Os elementos oferendados, em sintonia com as energias de cada Orixá, serão utilizados por eles como coombustíveis ou repositores energéticos para ações mágicas (da mesma forma que o álcool, o alimento e o fumo utilizados quando o médium está incorporado). Daí a importância de cada elemento ser escolhido com amor, qualidade, deoção e pensamento adequado.
Existem obrigações menores e maiores, variando de terreiro para terreiro, periódicas ou solicitadas de acordo com as circunstâncias, conforme o tempo de desenvolvimento mediúnico e a responsabilidade de cada um com seus Orixás, com sua coroa, como no caso da saída (quando o médium deixa o recolhimento e, após período de preparação, apresenta solenemente seu Orixá, ou é, por exemplo, apresentado como sacerdote ou Ogã) e outros. Embora cada casa siga um núcleo comum de obrigações fixadas e de elementos para cada uma delas, dependendo de seu destinatário, há uma variação grande de cores, objetos e características. Portanto, para se evitar o uso de elementos incompatíveis para os Orixás, há que se dialogar com a Espiritualidade e com os Dirigentes Espirituais, a fim de que tudo seja corretamente empregado ou, conforme as circunstâncias, algo seja substituído.
Para diversos rituais da Umbanda, inclusive as giras, pede-se, além de uma alimentação leve, a abstenção de álcool e que se mantenha o “corpo limpo” (expressão utilizada em muitos terreiros e que representa abstenção de relações sexuais). No caso da abstenção de álcool, o objetivo é manter a consciência desperta e não permitir abrir brechas para espíritos e energias com vibrações deletérias. No tocante à abstenção sexual, a expressão “corpo limpo” não significa que o sexo seja algo sujo ou pecaminoso: em toda e qualquer relação, mesmo a mais saudável, existe uma troca energética; o objetivo da abstenção, portanto, é que o médium mantenha concentrada a própria energia e não se deixe envoler, ao menos momentaneamente, pela energia de outra pessoa, em troca íntima.
O período dessas abstenções varia de casa para casa, mas geralmente é de um dia (pode ser da meia-noite do dia do trabalho até a próxima meia-noite, ou do meio-dia do dia anterior do trabalho até o meio-dia seguinte ao trabalho, etc.). Há períodos maiores de abstenções chamados de preceitos ou resguardos.
Em casos de banhos e determinados trabalhos, além de época de preceitos e resguardos, também há dieta alimentar específica, além de cores de vestuário que devem ser evitadas (salvo excessões como de uniformes de trabalho, por exemplo).
(continua...)
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