segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Feng Shui e Zen / Ch´an:

Do Livro: FENG SHUI – O PODER DE ATRAIR A PROSPERIDADE , De: Silvana Helena Occhialini , Editora: ROCA

Desenvolvido há mais de 4000 anos, na China, o Feng Shui é um conjunto de teorias e práticas destinadas à composição de ambientes saudáveis e harmônicos. Por meio de técnicas complexas, identifica os padrões de vibração energética em uma determinada área e estabelece arranjos que garantam o bem-estar e o equilíbrio mental e espiritual de seus ocupantes. Os termos Feng (vento) e Shui (água) têm origem na gênese dessa corrente de pensamento, quando seu principal pilar era a observação criteriosa das forças da natureza.
Os primeiros mestres eram também especialistas em astronomia, geografia, meteorologia, geologia e física. Estudavam especialmente os fenômenos derivados do geomagnetismo. Esse amplo conhecimento era aplicado, sobretudo, aos projetos arquitetônicos e paisagísticos. Sabiam que edificações harmonizadas com o ambiente circundante eram fundamentais para uma ida feliz, com saúde, prosperidade e bons relacionamentos. De fato, estamos mais integrados ao mundo físico do que imaginamos. Energias se trançam e se perpassam o tempo todo. Montanhas, rios, árvores, construções, objetos e pessoas interferem diretamente em nossos padrões vibratórios. O Feng Shui procura compreender essas interações, reajustá-las e, então, transformar positivamente a vida das pessoas do ponto de vista interior e exterior. Muitas vezes, essa reorganização da vida nos espaços parte de pressupostos bastante simples, associados ao bom senso; em outras ocasiões, exige técnicas mais complexas. Tudo depende do ambiente e das pessoas que nele atuam.
É importante mencionar, entretanto, que o Feng Shui não é uma religião. Trata-se de uma arte que permite a qualquer pessoa, independentemente de sua crença, relacionar-se da maneira mais saudável possível com seus espaços. O sucesso, a saúde e a alegria são dádivas que resultam de uma comunicação adequada entre o Chi (energia vital) do lugar e o Chi do indivíduo. Isso está relacionado com a fé, sim mas não com aquela das doutrinas religiosas. Trata-se da disposição pessoal de buscar por uma vida melhor.
O Feng Shui faz parte das oito ramificações da medicina tradicional chinesa, e foi originalmente chamado de Kan Yu, que significa céu e terra.
As Oito Ramificações da medicina chinesa: Auto-aprimoramento e meditação; Moimentos Chi Gong e Tai Chi Chuan; Alimentação; Trabalho corporal e massagem; Cosmologia e filosofia; Medicina das ervas; Acupuntura; Feng Shui.
O Feng Shui não tem como objetivo prioritariamente estético; não se trata, necessariamente, de “deixar as coisas bonitinhas e organizadas”, mas de estabelecer harmonia e equilíbrio nos espaços físicos. Quando isso ocorre, os ocupantes ganham sempre em qualidade de vida. Atraem bons novos amigos, estabelecem negócios lucrativos e ganham paz de espírito.
O Feng Shui está ligado a outros conhecimentos da cultura oriental. Tem suas bases filosóficas no Tao e no I Ching e trabalha com o fluxo invisível das energias e com o equilíbrio dos cinco elementos (madeira; fogo; terra; metal; água). Utiliza os mesmos princípios da acupuntura, por isso também é chamado de acupuntura dos espaços.
Várias são as linhas do Feng Shui. As escolas mais representativas são a Tradicional; a da Bússola; a da Forma; a indiana, Vastru Shastra; e a do Budismo Tântrico Tibetano do Chapéu Negro.

O consultor entende a energia dos espaços por meio da leitura dos símbolos, os quais decodificam para o que para nós é invisível. Essas técnicas permitem que realizemos intervenções em qualquer tipo de espaço, corrigindo disposições e recriando padrões vibratórios.

(continua...)


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Do Livro: HISTÓRIAS CH´AN

(Ch´an é o equivalente chinês para "zen".)

É o Vento ou a Bandeira que se Move:

Após herdar o manto e a tigela, o Mestre Ch´an Hui-nêng escondeu-se entre um bando de caçadores por cerca de dez anos. Quando o tempo estava maduro, ele começou a ensinar o Dharma.
Um dia, Hui-nêng chegou ao Templo Fa-hsing e viu dois monges discutindo calorosamente em frente a uma bandeira. Hui-nêng aproximou-se deles, ouvindo seus argumentos. Um dos monges disse: “Se não há vento, como pode a bandeira se mover? Portanto, digo, é o vento que se move”. O outro retrucou: “Se não há bandeira, como pode você saber que é o vento que se move? Assim eu digo que é a bandeira que está se movendo.”
Cada um insistia que seu próprio ponto de vista fosse o correto. Hui-nêng interrompeu-os e disse: “Por favor, não há necessidade de discutir. Eu gostaria de esclarecer o assunto para vocês. Não é nem o vento nem a bandeira que se move. São suas próprias mentes que estão se movendo.”

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Não Aceitando Responsabilidade:

Tarde da noite, o Mestre Ch´an Li-tsung parou em frente ao dormitório dos monges e gritou: “Ladrão! Ladrão!”
Todos despertaram por causa do barulho. Instantaneamente, um monge saiu correndo do dormitório. O Mestre Ch´an Li-tsung agarrou-o e exclamou: “Apanhei-o! Eu agarrei o ladrão!”
O monge protestou: “Mestre, o senhor agarrou a pessoa errada! Eu não sou um ladrão!”
Li-tsung não o soltou e gritou: “Sim, você é! Por que você não admite?”
O monge estava tão amedrontado, que não sabia o que fazer. O Mestre Li-tsung recitou um verso:
“Trinta anos próximo do Lago Hsi-tzu
As duas refeições aumentaram nossas forças.
Você escalou a montanha por nada!
Posso perguntar, você entendeu ou não?”

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O Mestre se Parece com um Burro?:

Quando o Mestre Ch´na Kuang-yung foi visitar pela primeira vez o Mestre Ch´na Yang-shan, este perguntou: “Qual é o propósito de sua visita?” Kuang-yung respondeu: “Eu vim para prestar meus respeitos ao Mestre”.
Então Yang-shan perguntou: “Você viu o Mestre?”
Kuang-yung replicou: “Sim, eu o vi”.
“O Mestre se parece com um burro ou com um cavalo?”
Kuang-yung respondeu: “Eu acho que o Mestre não se parece nem com o Buda!”
Yang-shan insistiu: “Se o Mestre não se parece com o Buda, então com que ele se parece?”
Kuang-yung respondeu: “Se ele se parece com alguma coisa, então ele não seria diferente de um burro ou de um cavalo”.
Surpreso, Yang-shan declarou: “Deveríamos esquecer a diferença entre um Buda e uma pessoa comum e superar todas as paixões. Então a nossa verdadeira natureza brilharia. Em vinte anos, ninguém será capaz de ultrapassá-lo. Cuide-se!”
Mais tarde, O Mestre Yang-Shan contou a todos: “Kuang-yung é um Buda vivo.”

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Uma Pérola Envolta em Trapos:

Um dia o Primeiro Ministro P´ei-hsiu foi para o Templo Ta-an e perguntou aos monges: “Os dez grandes discípulos de Buda foram todos excepcionais em diferentes áreas. Em qual área Rahula se sobressaía?
Todos pensaram que está questão fosse fácil, assim todos responderam: “Ele foi excepcional em práticas esotéricas”.
P´ei-hsiu não ficou satisfeito com esta resposta, perguntando então: “Existe aqui algum Mestre Ch´an presente?”
Naquele momento o Mestre Ch´an Lung-ya estava trabalhando na horta, então os monges convidaram-no a se juntar a eles. P´ei-hsiu repetiu a pergunta: “Em que área Rahula se sobressaía?”
Sem qualquer hesitação o Mestre Lung-ya respondeu: “não sei!”
P´hei-hsiu ficou satisfeito, prostrando-se imediatamente diante de Lung-ya, louvando-o, exclamou: “Uma pérola envolta em trapos!”

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Um Monge Chamado “Gota-D´água”:

Um dia, o Mestre Ch´an I-shan estava tomando banho. Como a água estivesse muito quente, ele pediu a um de seus discípulos que trouxesse um balde de água fria. O discípulo trouxe a água misturando-a à quente. Depois de temperá-la, ainda sobrou um pouco no balde, a qual ele jogou fora. O Mestre não ficou muito contente com isso e disse: “Por que você é tão desperdiçador? Tudo neste mundo é útil. As coisas diferem somente em como são usadas, até mesmo uma gota de água, por exemplo. Se você usá-la para flores e árvores, então, não somente as flores e as árvores ficarão felizes, mas ela mesma não perderá seu valor.  Uma simples gota d´água é muito valiosa. Você não deve desperdiça-la.”
Após ouvir o Mestre, o discípulo trocou seu nome para “Gota-D´água”.
Mais tarde, quando Gota-D´água começou a ensinar o budismo, as pessoas perguntavam-lhe: “Qual é a coisa mais virtuosa no mundo?” “Gota d´água”, respondia ele. “O espaço vazio pode conter todas as coisas. E o que pode conter o espaço vazio?”
“Gota d´água!”
O Mestre Gota-d´água já se havia harmonizado com a gota d´água. O universo inteiro era sua mente. Desta forma, uma gota de água pode conter o ilimitado tempo e espaço.

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Meditando Sobre Urina Fétida:

O Mestre Ch´an Tsúng-yüeh foi visitar o Mestre Ch´an Shou-chih. Após terem conversado um pouco, o Mestre Shou-chih começou a criticar Ts´ung-yüeh: “Apesar de você ser o Monge Chefe de Tao-wu Shan, você fala como um bêbado!”
Ts´ung-yüeh enrubescendo com o embaraço, replicou: “Por favor, seja compassivo e ensine-me!”
O Mestre Shou-chih perguntou-lhe: “Você já estudou com o Mestre Ch´an Fa-ch´ang?”
“Eu li e decorei seus ensinamentos, por isso não fiui estudar pessoalmente com ele”.
O Mestre Shou-chih perguntou novamente: “E com o Mestre Ch´an K´e-wen, você foi estudar?”
Desdenhosamente, Ts´ung-yüeh replicou: “K´e-wen? Ele é um louco! Ele arrasta um trapo que cheira a urina fétida. Ele não é um Mestre Ch´an!”
O Mestre Shou-chih disse solenemente: “O Ch´an está justamente aí! Vá e medite sobre urina fétida!”
Ts´ung-yüeh aceitou o conselho do Mestre Shou-chih e foi estudar com o Mestre K´e-wen. Ele finalmente alcançou a realização e retornou para agradecer o Mestre Shou-chih.
O Mestre Shou-chih perguntou-lhe: “O que você aprendeu com o MestreK´e-wen?”
Ts´ung-yüeh respondeu respeitosamente: “Se não fosse seu conselho, minha vida teria sido desperdiçada. Por isso, eu voltei para lhe agradecer!”
O Mestre Shou-chih disse: “Agradecer-me pelo que? Você deveria agradecer à urina fétida!”

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Por Favor, Tome Cuidado:

Um dia, quando o Mestre Ch´an Kuei-tzung, subitamente decidiu partir e foi despedir-se do Mestre.
Kuei-tzung disse: “Para onde você vai?”
Ling-hsün respondeu: “Voltar para as montanhas.”
“Voce estudou aqui por treze anos. Agora que está nos deixando, eu contarei a você a essência do Dharma. Depois que você tiver feito as malas, venha me ver novamente”
Ling-hsün seguiu as instruções do Mestre deixando suas malas do lado de fora da porta quando foi vê-lo. O Mestre Kuei-tzung acenou para ele: “Venha cá!”
Ling-hsün atendeu ao chamado.
O Mestre disse gentilmente: “O tempo está frio. Por favor cuide-se durante a viagem.”
Após ouvir isto, Ling-hsün iluminou-se.

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Biscoito de Açúcar:

Um monge foi estudar com o Mestre Ch´an Tao-ming. O Mestre perguntou ao monge: “Que espécie de ensinamentos budistas você tem lido?”
O monge replicou: “Eu tenho lido o ensinamento Yogacara”.
O Mestre perguntou: “Você pode fazer uma palestra sobre este assunto?”
O monge declarou: “Eu não me atrevo”.
O Mestre Tao-ming apanhou um biscoito de açúcar, quebrou-o em dois, e perguntou: “Os três mundos não são nada mais que a manifestação da mente; os dez mil dharmas surgem da consciência. O que você diz sobre isto?”
O monge pasmou-se. Tao-ming persistiu: “Isto deveria ou não ser chamado um biscoito de açúcar?”
O monge estava agora transpirando e respondeu nervosamente: “Deveria ser chamado um biscoito de açúcar”.
O Mestre então perguntou a um noviço que estava perto: “Um biscoito de açúcar foi quebrado em dois pedaços – o que você tem a dizer sobre isso?”
O noviço respondeu sem hesitação: “Os dois pedaços residem na mente.”
O Mestre Tao-ming continuou: “Como você chama isso?”
O noviço replicou: “Um biscoito de açúcar”.
O Mestre Tao-ming riu cordialmente e disse: “Você também pode fazer palestras sobre os ensinamentos Yogacara!”

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Onde está o Buda agora?:

Certa vez, o Imperador Shun-tzung perguntou ao Mestre Ch´an Ju-man: “De onde veio o Buda? Para onde ele foi? Se dissermos que o Buda mora neste mundo eternamente, então onde está o Buda agora?”
O Mestre Ju-man respondeu: “O Buda veio do eterno e retorna para o eterno. Sua verdadeira natureza é uma com o espaço-vazio. Ele habita num lugar onde existe a não-mente. O ciente funde-se ao não-ciente. Ele veio e partiu para o bem de todos os seres. O mar puro da verdadeira natureza é o seu corpo profundo que permanece eternamente. Isto deveria ser contemplado pelo sábio, cuidadosamente e não permitir o surgimento de qualquer dúvida!”
O Imperador Shun-tzung não estava convencido e disse: “O Buda nasceu num palácio e morreu entre duas árvores “sala”. Ele ensinou por quarenta e nove anos e disse que não expôs uma palavra do Dharma. As montanhas, os rios e oceanos, o sol e a lua, o céu e a terra – tudo cessará de existir quando o tempo vier. Quem disse que não há nascimento nem morte? O sábio deveria ser capaz de captar claramente um entendimento disto.”
Então o Mestre Ju-man explicou: A essência do Buda é o não ser, e somente quem se ilude fará distinções. Sua verdadeira natureza é uma com o espaço vazio e não experimentará nem nascimento e nem morte. Quando as condições certas estiverem presentes, o Buda nascerá. Quando as condições certas deixarem de existir, o Buda morrerá. Ele ensinou os seres em todos os lugares, da mesma forma que a lua é refletida em toda água. Ele não é nem permanente nem impermanente: ele não tem origem nem extinção. Ele não nasceu, nem nunca morreu. Quando alguém vê do lugar da não-mente, então não há Dharma a ser considerado.”
Satisfeito com a resposta, o Imperador Shun-tzung demonstrou mais respeito pelo Mestre.

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Compaixão:

Três irmãos, embora não fossem monges, eram budistas muito devotos. Juntos estavam viajando para visitar diferentes mestres Ch´an. Um dia, eles ficaram com uma família de sete crianças cujo pai tinha acabado de falecer. No dia seguinte, quando os três irmãos estavam para partir, o mais moço disse para os outros dois: “Prossigam com suas viagens. Eu decidi ficar”.
Os dois irmãos mais velhos não ficaram contentes com a decisão do irmão mais jovem e partiram irritados. Não seria muito fácil para a viúva educar as sete crianças, assim a decisão do irmão mais novo era de muita ajuda. Mais tarde, a viúva quis casar-se com ele, mas ele disse: “Seu marido morreu a pouco tempo. Não seria apropriado se nos casássemos tão cedo. Você deveria permanecer de luto por três anos antes de discutirmos nosso casamento”. Três anos mais tarde, a viúva propôs-lhe casamento outra vez. Ele replicou: “Se eu me casar com você agora, eu estaria desrespeitando seu marido. Por três anos, deixe-me ficar de luto por ele”
Após outros três anos, a viúva propôs-lhe novamente. Ele replicou: ”Em consideração à nossa felicidade futura, fiquemos de luto por seu marido por mais três anos, antes de nos casarmos”.
Nove anos após a morte do marido, as crianças já tinham crescido. O irmão mais jovem sentiu que sua missão espiritual estava cumprida, e deixou a viúva para continuar sua busca espiritual.


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Hui-k´o Pacificando sua Mente:

Shen-kuang Hui-k´o viajou milhares de milhas para o Templo Shao-lin em Sung Shan, onde ele foi reverenciar Bodhidharma, esperando ouvir seus ensinamentos e tornar-se seu discípulo. Como Bodhidharma estivesse meditando voltado para a parede, ele não prestou atenção a Hui-k´o, que permaneceu imóvel fora da porta. Estava nevando terrivelmente, e depois de um longo tempo, a neve chegara aos joelhos de Hui-k´o. Impressionado pela sinceridade de Hui-k´o, Bodhidharma inqueriu: “Você ficou na neve por um longo tempo. O que você quer?”
Hui k´o replicou: “Eu gostaria apenas de pedir ao Mestre para abrir o Portão da Verdade e assim beneficiar a todos os seres”.
“O maravilhoso caminho dos Budas não p ode ser alcançado nem mesmo através de eras de grande esforço, nem mesmo praticando o impossível e tolerando o intolerável. Com sua mente impertinente, você está apenas gastando seu tempo em querer atingir o verdadeiro ensinamento.”
Após ouvir esse ensinamento, Hui-k´o cortou seu braço.
O Bodhidharma disse: “Os Budas esquecem seus próprios corpos por causa do Dharma. Agora que você cortou seu braço, o que você está procurando?”.
“Minha mente não está pacificada, por favor ajude-me a pacificá-la!”
“Traga-me sua mente! Eu vou pacificá-la para você!
Aturdido, Hui-k´o exclamou: “Eu não posso encontrar minha mente!”
O Bodhidharma sorriu e disse:
“Eu já pacifiquei sua mente”.
Nesse instante, Hui-k´o tornou-se iluminado.

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Vinte por Cento de Desconto:

Um filho foi ao Mestre Ch´an Fo-kuang para que ele executasse cânticos por seu falecido pai. Como o filho estivesse preocupado que a cerimônia pudesse ser muito cara, ele repetidamente perguntava o preço. O Mestre não estava contente com a sovinice do filho e replicou: “Custará dez onças de prata para cantar o Sutra Amitabha”.
O filho exclamou: “Dez onças de prata! Isto é muito caro! E se me desse um desconto de vinte por cento? Oito onças, pode ser?”
O Mestre concordou. Quando o cântico estava terminando, o Mestre murmurou: “Budas e Bodhisattvas das dez mil direções, por favor transfiram todos os méritos deste cântico para o falecido para que ele possa ir para a Terra Pura do Oriente”.
O filho protestou: “Mestre, eu só tenho ouvido que as pessoas vão para a Terra Pura do Ocidente, mas eu nunca ouvi que elas fossem para a Terra Pura do Oriente”.
O Mestre disse: “Custa dez onças de prata para transferir seu pai para a Terra Pura do Ocidente. Você insistiu em ter vinte por cento de desconto, assim, seu pai só pode ir para a Terra Pura do Oriente”.
O filho replicou: “Neste caso, eu lhe darei mais duas onças. Por favor, transfira meu pai para a Terra Pura do Ocidente”.
Subitamente, o pai falou de seu caixão: “Seu avarento! Apenas porque queria economizar duas onças de prata, você me fez ir de lá para cá, do Oriente para o Ocidente. Você não sabe como isto é cansativo?”.

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Lágrimas de um Mestre Ch´an:

Um dia, o Mestre Ch´an Kung-yeh viajava por uma estrada e encontrou alguns bandidos que queriam roubá-lo. Lágrimas rolaram dos olhos do Mestre. Os bandidos começaram a rir e exclamaram: "Que covarde!”
Então o Mestre Kung-yeh disse: "Não pensem que estou chorando por sentir medo de vocês. Eu não temo nem mesmo o nascimento ou a morte. Eu tenho pena de vocês jovens. Vocês são fortes e saudáveis, contudo, em vez de fazer coisas benéficas para os outros, vocês prejudicam as pessoas, roubando-as. É claro que o que vocês estão fazendo não é aceitável e não pode ser tolerado pela sociedade. E o pior é que vocês irão todos para o inferno e sofrerão grande dor. Estou tão constrangido que não posso evitar de derramar lágrimas por vocês.”
Os bandidos ficaram comovidos e decidiram abandonar o caminho do mal.

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I-Hsiu Coloca seu Sutra para Tomar Sol:

Um dia, o Mestre Ch´an I-hsiu, que estava vivendo em Pi-rui Shan, viu uma vasta multidão de seguidores budistas aglomerados na montanha porque os monges do templo estavam colocando seus sutras para tomar sol.  Havia uma superstição de que, se o vento soprasse sobre os sutras levaria os problemas embora e transmitiria sabedoria. Assim sendo, muitas pessoas correram para Pi-rui Shan em busca destes benefícios. Após ouvir isto, o Mestre I-hsiu disse: “Neste caso eu também vou colocar meu sutra ao sol!” Ele tirou suas roupas e deitou-se ao sol. Alguns seguidores que viram I-hsiu, ficaram horrorizados com o seu comportamento.       Mais tarde, quando os monges do templo tomaram conhecimento do incidente disseram a I-hsiu que ele não deveria ter sido indecoroso. I-hsiu então explicou sua atitude dizendo: “Os sutras que vocês estão colocando ao sol são mortos, estão bichados, ao passo que o que eu estou colocando está vivo; ele pode ensinar o Dharma, trabalhar e comer”. Uma pessoa sábia deveria compreender que espécie de sutra é mais valioso!”

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Um Verdadeiro Assistente:

Um dia, o Mestre Ch´an Shih-t´i viu seu assistente indo para a sala de jantar, levando uma tigela. Ele perguntou: “Para onde você está indo?”
O assistente respondeu: “Para a sala de jantar!”
O Mestre Shih-t´i censurou-o dizendo: “Eu sei que você está indo para a sala de jantar”.
“Se o senhor sabia, então por que me perguntou?”
Shih-t´i replicou: “Eu estou perguntando sobre a sua obrigação”.
O assistente respondeu: “Se o Mestre pergunta sobre minha obrigação, então eu realmente estou indo para a sala de jantar”.
Shih-t´i disse aprovando: “Você é verdadeiramente meu assistente!”


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Olhando Para Você com Olhos Piscantes:

O Mestre Ch´an Yang-shan estava querendo testar o entendimento do Mestre Ch´an Chih-hsien sobre o Ch´an. Portanto, ele lhe disse: “Irmão no Dharma, o que você tem ganho com a meditação ultimamente?” Chih-hsien respondeu: “No ano passado, eu era pobre mas não era realmente pobre. Este ano, sou pobre e realmente pobre. Ano passado, eu era pobre, mas ainda tinha algum lugar para ficar. Este ano, eu sou tão pobre que não tenho nem mesmo onde ficar”.
Yang-shan respondeu: irmão no Dharma, eu admito que você já tenha penetrado o Ch´a n do Tathagata, mas você ainda não entrou na porta Ch´an dos Patriarcas.”
Em resposta, Chih-hsien recitou um verso:
“Eu recebo um ensinamento,
Olhando para você com olhos piscantes.
Se você não entende,
Não se considere um estudante do Caminho.”
Yang-shan estava muito contente com o progresso de Chih-hsien e foi relatar o incidente ao seu mestre Ch´an Ruei-shan. Yang-shan disse: “Que maravilha! O irmão no Dharma Chih-hsien já entrou no Ch´an dos Patriarcas”.

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De Quem é a Culpa?:

Um budista leigo estava andando pela margem do rio quando viu um barqueiro empurrando uma barca em direção ao rio, para que ele pudesse atravessar alguns passageiros. Aconteceu de um Mestre Ch´an passar por perto. O budista leigo aproximou-se do Mestre e perguntou: “Mestre, aquele barqueiro matou diversos caranguejos e camarões pequenos enquanto estava empurrando sua barca para o rio. A culpa é dos passageiros ou é do barqueiro?”
O Mestre retorquiu sem hesitar: “A culpa não é nem dos passageiros nem do barqueiro!”
O budista leigo não entendeu, por isso perguntou novamente: “ Se a culpa não é de nenhum deles, então de quem é?”
O Mestre replicou incisivamente: “A culpa é sua!”


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O Mercador de Óleo:

Um dia, quando o Mestre Ch´an Chao-chou estava a caminho do Distrito T´ung-cheng, ele encontrou o Mestre Ch´an Ta-t´ung de T´ou-tzü Shan e perguntou: “É você que é mestre de T´ou-tzü Shan?”
Ta-t´ung acenando com sua mão apregoava: “Sal, chá, e óleo. Por favor comprem!”
Chao-chou ignorando-o, rapidamente continuou seu caminho para o templo. O Mestre Ta-t´ung seguiu atrás e chegou ao templo com uma garrafa de óleo na mão. Chao-chou disse a ele desdenhosamente: “Eu tenho ouvido falar do nome do grande Mestre Ta-t´ung de T´ou-tzü Shan por um longo tempo. Contudo, eu somente vejo um mercador de óleo”. Ta-t´ung contestou: “Eu também tenho ouvido falar que Chao-chou é um mestre Ch´an, mas de fato ele não difere em nada de uma pessoa comum. Você somente vê o mercador de óleo e não vê o verdadeiro T´ou-tzu.”
Chao-chou perguntou: “Por que você diz que eu sou uma pessoa comum? O que é T´ou-tzü?”.
O Mestre Ta-t´ung levantou a garrafa de óleo e gritou: “óleo! óleo!”

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Eu não sou Buda:

Um erudito foi viver em um templo. Julgando-se brilhante, frequentemente debatia com o Mestre Ch´an Chao-chou. Um dia, ele perguntou ao Mestre: “O Buda era muito compassivo. Quando ele estava ajudando os seres sencientes, ele sempre tentava atender aos seus desejos. Qualquer coisa que desejassem, Buda tentaria satisfazê-los. É correto?”
O Mestre Chao-chou exclamou: “Sim!”
O erudito continuou: “Eu desejo muitíssimo ter a bengala que está em sua mão, mas não sei se meu desejo poderá ser atendido”.
O Mestre Chao-chou recusou-lhe dizendo: “Um cavalheiro não toma pela força o que ele quer. Você entende?”
O erudito contestou: “Eu não sou cavalheiro”.
“Nem eu sou Buda!” gritou Chao-chou.
Em outra ocasião, quando o erudito estava sentado em meditação, Chao-chou passou por perto. O erudito olhou para o Mestre mas não lhe deu atenção. Chao-chou e repreendeu dizendo: “Jovem, por que você não se levanta quando vê alguém mais velho?”
Ele replicou: “Sentado é o mesmo que estar em pé!”
O Mestre Chao-chou esbofeteou-o. Enfurecido, o jovem erudito exigiu uma explicação. O Mestre Chao-chou disse gentilmente: “Esbofeteá-lo é o mesmo que não esbofeteá-lo”.

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Eu Também Tenho uma Língua:

Quando o Mestre Ch´an Kuang-hui Yuan-lien começou a estudar o Ch´an, ele foi ai Mestre Ch´an Chen-chueh. Durante o dia ele trabalhava na cozinha, e à noite ele recitava sutras. Um dia, o Mestre Chen-chueh perguntou-lhe: “Que sutra você está cantando agora?”
Yuan-lien respondeu: “O Sutra Vimalakirti”.
Chen-chueh perguntou: “O Sutra está aqui. Onde está Vimalakirti?”
Yuan-Lien não sabia como responder, assim ele perguntou ao Mestre Chen-chueh: “Onde está vimalakirti?”
Chen-chueh exclamou: “Se eu sei ou não, não posso lhe dizer!”
Yuan-lien sentiu-se tão envergonhado que deixou seu Mestre e foi aprender com mais de cinquenta outros mestres Ch´an. Ainda assim, ele não conseguiu alcançar a realização. Um dia, ele foi visitar Hsing-nien e perguntou: “Eu estou indo para a montanha do tesouro. O que eu deveria fazer se eu voltasse com as mãos vazias?”
O Mestre Hsing-nien declarou: “Cave o tesouro que está dentro de você!”
Yuan-lien alcançou a realização instantaneamente e disse: “Eu não tenho dúvidas sobre as línguas dos mestres Ch´an”.
Hsing-nien perguntou: “Por que?”
Yuan-lien respondeu: “Eu também tenho uma língua”.
Hsing-nien estava exultante e disse: “Você já realizou a essência do Ch´an”.

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Pensando em Não Pensar:

Um dia, enquanto o Mestre Ch´an Wei-yen meditava, um monge que passava por perto olhou para ele e perguntou: “O senhor está sentado aqui imóvel como uma rocha. Em que o senhor está pensando?”
O Mestre respondeu: “Eu estou pensando em não pensar”.
O monge continuou: “Como o senhor faz isto?”
Wei-yen respondeu: “Não pensando”

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O Dharma não é Dual:

Um erudito Confucionista chamado Han Yu enfureceu o imperador por ter escrito uma censura, admoestando-o a não receber relíquias do Buda. Portanto, ele foi exilado para Chao-chou.
Enquanto estava lá, Han Yu foi visitar o Mestre Ch´an Pao-tung e perguntou: “Mestre, quantos anos o senhor tem?”
O Mestre levantou seu rosário e perguntou: “Você sabe?”
Han Yu respondeu: “Não, eu não sei”.
Pao-tung acrescentou: “Dia e noite, 108”.
Han Yu não queria que notassem que ele não havia entendido, assim ele foi embora.
No dia seguinte, Han Yu retornou. Encontrando o monge chefe do templo, ele contou-lhe a conversa que ele tivera com o Mestre Pao-tung e perguntou-lhe o que aquilo queria dizer.
Após ouvir o relato, o monge chefe tamborilou nos seus próprios dentes três vezes. Han Yu ficou ainda mais confuso. Ele procurou o Mestre Pao-tung e perguntou-lhe outra vez: “Mestre, quantos anos o senhor tem?”.
O Mestre Pao-tung também tamborilou em seus dentes três vezes.
Subitamente, Han Yu pareceu ter entendido e disse: “Ah! O Dharma não é dual”.
O Mestre Pao-tung perguntou: “Por que?”.
Han Yu respondeu: “O monge chefe deu a mesma resposta que o senhor”.
O Mestre Pao-tung resmungou para si mesmo e disse: “O ensino do Budismo e do Confucionismo não é dual. Você e eu somos o mesmo!”
Han Yu finalmente entendeu e mais tarde tornou-se um budista.

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Vendo e não Vendo:

Após ouvir os pontos de vista do Mestre Ch´an Shou-hsun, o Mestre Ch´an Fo-chien disse: “É uma pena que uma pérola tão brilhante tenha sido apanhada por este maluco”.
Ele continuou citando o poema do Mestre Ch´an Ling-yun: “‘Sempre que vejo um pessegueiro em flor, não tenho dúvidas’. Por que Ling-yun não tinha dúvidas?”
Shou-hsun respondeu imediatamente: “Não diga que ele não tenha dúvidas; mesmo hoje, não conseguimos achar uma dúvida em parte alguma”.
Fo-chien perguntou, “Hsüan-sha disse: ‘realmente esta nobre verdade é muito verdadeira, mas eu não posso compreende-la totalmente!’’ O que era que ele não podia entender totalmente?”
Polidamente Shou-hsun respondeu: “nós podemos ver que o Mestre Ch´an Hsüan-sha tinha ótimas intenções". ”Ele continuou recitando o seguinte verso:
“Olhando para o céu o dia todo sem levantar a cabeça,
Erguendo os olhos somente quando o pessegueiro floresce;
Mesmo se houver uma rede que cubra o céu,
Quando você atravessar o portão hermeticamente fechado,
Você se sentirá completamente livre.”
O Mestre Fo-chien sentiu que o Mestre Shou-hsun estava iluminado, mas o Mestre Yuan-wu não pensava da mesma forma, e queria saber melhor quem era o Mestre Shou-hsun, por isso viajou com ele. Quando eles estavam às margens de um lago, o Mestre Yuan-wu empurrou-o dentro d´água e perguntou: “Antes que Niu-tou Fa-jung encontrasse o Quarto Patriarca, como é que ele era?”
Shou-hsun respondeu: “Quando o lago é profundo, os peixes se juntam”.
Yuan-wu continuou: “O que acontece depois que eles se encontram?”
Shou-hsun respondeu: ”As árvores altas aparam o vento”.
“O que acontece quando ambos se encontram sem se encontrar?”
Shou-hsun respondeu: “O pé estendido está sobre o pé recolhido”.

O Mestre Yuan-wu estava muito impressionado pelas respostas de Shou-hsun e ficou convencido de que Shou-hsun estava verdadeiramente iluminado.

(continua...)


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