VISÃO DO MUNDO PARA OS GREGOS&ROMANOS
Fonte: O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA – Histórias de Deuses e Heróis (DE: THOMAS BULFINCH, EDITORA: EDIOURO)
Os gregos acreditavam que a Terra fosse chata e redonda, e que seu país ocupava o centro da Terra, sendo seu ponto central, por sua vez, o Monte Olimpo, residência dos deuses, ou Delfos, tão famoso por seu oráculo.
O disco circular terrestre era atravessado de leste a oeste e dividido em duas partes iguais pelo Mar, como os gregos chamavam o Mediterrâneo e sua continuação, o Ponto Euxino, os únicos mares que conheciam.
Em torno da Terra corria o rio Oceano, cujo curso era do sul para o norte na parte ocidental da Terra e em direção contrária do lado oriental. Seu curso firme e constante não era perturbado pelas mais violentas tempestades. Era dele que o mar e todos os rios da Terra recebiam suas águas.
A parte setentrional da Terra era supostamente habitada por uma raça feliz, chamada hiperbóreos, que desfrutava uma primavera eterna e uma felicidade perene, por trás das gigantescas montanhas, cujas cavernas lançavam as cortantes lufadas do vento norte, que faziam tremer de frio os habitantes da Hélade (Grécia). Aquele país era inacessível por terra ou por mar. Sua gente vivia livre da velhice, do trabalho e da guerra.
Moore nos deixou um “Canto de um Hiperbóreo”, que assim começa:
“De um país venho pelo sol banhado
De jardins reluzentes,
Onde o vento do norte jaz domado
E os uivos estridentes”
Na parte meridional da Terra, junto ao curso do Oceano, morava um povo tão feliz e virtuoso como os hiperbóreos, chamado etíope. Os deuses o favoreciam a tal ponto, que se dispunhavam, às vezes, a deixar os cimos do Olimpo, para compartilhar de seus sacrifícios e banquetes.
Na parte ocidental da Terra, banhada pelo Oceano, ficava um lugar abençoado, os Campos Elíseos, para onde os mortais favorecidos pelos deuses eram levados, sem provar a morte, a fim de gozar a imortalidade da bem-aventurança. Essa região feliz era também conhecida como os Campos Afortunados ou Ilha dos Abençoados.
Como se vê, os gregos dos tempos primitivos pouca coisa sabiam a respeito dos outros povos, a não ser os que habitavam as regiões situadas a leste e a sul de seu próprio país, ou perto do litoral do Mediterrâneo. Sua imaginação, enquanto isto, povoava a parte ocidental daquele mar de gigantes, monstros e feiticeiras, ao mesmo tempo em que colocava em torno do disco da Terra, que provavelmente consideravam como de extensão reduzida, nações que gozavam de favores especiais dos deuses, que as beneficiavam com a aventura e a longevidade.
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DEUSES E SERES GREGOS&ROMANOS
Fonte: O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA – Histórias de Deuses e Heróis (DE: THOMAS BULFINCH, EDITORA: EDIOURO)
Supunha-se que a Aurora, o Sol e a Lua levantavam-se no Oceano, em sua parte oriental, e atravessavam o ar, oferecendo luz aos deuses e aos homens. Também as estrelas, com excessão das que formavam as constelações das Ursas, e outras que lhes ficavam próximas, levantavam-se e deitavam-se no Oceano. Ali, o deus-sol embarcava num barco alado, que o transportava em torno da parte setentrional da Terra, até o lugar onde se levantava, no nascente. Milton faz alusão a esse fato em seu “Comus”:
“Eis que do dia o carro refulgente,
Com seu eixo de ouro, docemente
Sulca as águas do oceano, sem desmaio,
Enquanto do inclinado sol o raio
Para o alto se volta, como seta
Visando, com firmeza, a outra meta
De sua moradia no nascente”
A morada dos deuses era o cume do Monte Olimpo, na Tessália. Uma porta de nuvem, da qual tomavam conta as deusas chamadas Estações, abria-se a fim de permitir a passagem dos imortais para a Terra e para dar-lhes entrada, em seu regresso. Os deuses tinham moradas distintas; todos, porém, quando convocados, compareciam ao palácio de Júpiter, do mesmo modo que faziam as divindades cuja morada habitual ficava na Terra, nas águas, ou embaixo do mundo. Era também no grande salão do palácio do rei do Olimpo que os deuses se regalavam, todos os dias, com ambrosia e néctar, seu alimento e bebida, sendo o nectar servido pela linda deusa Hebe. Ali discutiam os assuntos relativos ao céu e à terra; enquanto saboreavam o néctar, Apolo, deus da música, deliciava-os com os sons de sua lira e as musas cantavam. Quando o sol se punha, os deuses retiravam-se para as suas respectivas moradas, a fim de dormir.
Os versos seguintes da “Odisséia” mostram como Homero concebia o Olimpo:
“Disse Minerva, a deusa de olhos pulcros,
E ao Olimpo subiu, à régia e eterna
Sede dos deuses, onde a tempestade
Ruge jamais, e a chuva não atinge
E nem a neve. Onde o dia brilha
Num céu limpo de nuens e ameaças.
Felicidades sempiterna gozam
Ali os seus divinos habitantes.”
As túnicas e outras peças dos vestuários das deusas eram tecidas por Minerva e pelas Graças, e todas as demais peças de natureza mais sólida eram formadas por diversos metais. Vulcano era o arquiteto, o ferreiro, o armeiro, o construtor de carros e o artista de todas as obras do Olimpo. Construía com bronze as moradas dos deuses; fazia os sapatos de ouro com que os imortais caminhavam sobre o ar ou sobre a água, ou se moviam de um lugar para o outro, com a velocidade do vento, ou mesmo do pensamento. Também fazia com o bronze os cavalos celestiais, que arrastavam os carros dos deuses pelo ar, ou ao longo da superfície do mar. Tinha o poder de dar movimento próprio às suas obras, de sorte que os trípodes (carros e mesas) podiam mover-se sozinhos para entrar ou sair do palácio celestial. Chegava a dotar de inteligência as servas de ouro que fazia para cuidar dele próprio.
Júpiter ou Jove (Zeus), embora chamado pai dos deuses e dos homens, tivera um começo. Seu pai foi Saturno (Cronos) e sua mãe Réia(Ops). Saturno e Réia pertenciam à raça dos Titãs, filhos da Terra e do céu, que surgiram do Caos.
Havia outra cosmogonia, ou versão sobre a criação, de acordo com a qual a Terra, o Erêbo e o Amor foram os primeiros seres. O Amor (Eros) nasceu do ovo da Noite, que flutuava no Caos. Com suas setas e sua tocha, atingia e animava todas as coisas, espalhando a vida e a alegria.
Saturno e Réia não eram os únicos Titãs. Havia outros, cujos nomes eram Oceano, Hipérion, Iapeto e Ofíon, do sexo masculino; e Têmis, Mnemósine, Eurgnome, do sexo feminino. Eram os deuses primitivos, cujo domínio foi, depois, transferido para outros. Saturno cedeu lugar a Júpiter, Oceano a Netuno; Hipérion, a Apólo. Hipérion era o pai do Sol, da Lua e da Aurora. É, portanto, o deus-sol original e apresentavam-no com o esplendor e a beleza mais tarde atribuídos a Apolo.
“As madeixas de Hipérion, do próprio Jove a fronte.” (Shakespeare)
Ofíon e Eurinome governaram o Olimpo, até serem destronados por Saturno e Réia. Milton faz alusão a eles, no “Paraíso Perdido”, dizendo que os pagãos parecem ter tido algum conhecimento da tentação e da queda do homem:
“Contavam em suas lendas que a serpente
A quem chamavam Ofíon, com Eurínome,
Reinaram no princípio sobre o Olimpo
De onde Saturno os expulsou depois”
As representações de Saturno não são muito consistentes; de um lado, dizem que seu reino constituiu a idade do ouro da inocência e da pureza, e, por outro lado, ele é qualificado como um monstro, que devorava os próprios filhos. Júpiter, contudo, escapou a esse destino e, quando cresceu, desposou Métis (Prudência) e esta ministrou um medicamento a Saturno, que o fez vomitar seus filhos. Júpiter, juntamente com seus irmãos e irmãs, rebelou-se, então, contra Saturno e seus irmãos, os Titãs, venceu-os e aprisionou alguns deles no Tártaro, impondo outras penalidades aos demais. Atlas foi condenado a sustentar o céu em seus ombros.
Depois do destronamento de Saturno, Júpiter dividiu os domínios paternos com seus irmãos Netuno (Poseidon) e Plutão (Dis). Júpiter ficou com o céu, Netuno, com o oceano, e Plutão com o reino dos mortos. A Terra e o Olimpo eram propriedades comuns. Júpiter tornou-se o rei dos deuses e dos homens. Sua arma era o raio e ele usava um escudo chamado Égide, feito por Vulcano. Sua ave favorita era a águia, que carregava os raios.
Juno (Hera) era a esposa de Jupiter e rainha dos deuses. Íris, a deusa do arco-íris, era a servente e mensageira de Juno. O pavão, sua ave favorita.
Vulcano (Hefesto), o artista celestial, era filho de Júpiter e de Juno. Nascera coxo e sua mãe sentiu-se tão aborrecida ao vê-lo que o atirou para fora do céu. Outra versão diz que Júpiter atirou-o para fora com um pontapé, devido à sua participação numa briga do rei do Olimpo com Juno. O defeito físico de Vulcano seria consequência dessa queda. Sua queda durou um dia inteiro e o deus coxo acabou caindo na Ilha de Lenos que, desde então, lhe foi consagrada. Milton alude a esse episódio, no Liro I do “Paraíso Perdido”:
“Caiu do amanhecer ao meio-dia,
Do meio-dia até a noite ir.
Um dia inteiro de verão, com o sol
Posto, do zênite caiu, tal como
Uma estrela cadente, na ilha egéia
De Lenos”
Marte (Ares), deus da guerra, era também filho de Júpiter e de Juno.
Febo (Apolo), deus da arte de atirar com o arco, da profecia e da música, era filho de Júpiter e de Latona, e irmão de Diana (Ártemis). Era o deus do sol, como sua irmã Diana era a deusa da lua.
Vênus (Afrodite), deusa do amor e da beleza, era filha de Júpiter e Dione, mas outra versão a dá como saída da espuma do mar. O Zéfiro a levou, sobre as ondas, até a Ilha de Chipre, onde foi recolhida e cuidada pelas Estações, que a levaram, depois, à assembléia dos deuses. Todos ficaram encantados com sua beleza e desejaram-na para esposa. Júpiter deu-a a Vulcano, em gratidão pelo serviço que ele prestara, forjando os raios. Desse modo, a mais bela das deusas tornou-se esposa do menos favorecido dos deuses. Vênus possuía um cinto bordado, o Cestus, que tinha o poder de inspirar o amor. Suas aves preferidas eram os pombos e os cisnes, e a rosa e o mirto eram as plantas a ela dedicadas.
Cupido (Eros), deus do amor, era filho de Vênus, e seu companheiro constante. Armado com seu arco, desfechava as setas do desejo no coração dos deuses e dos homens.
Havia, também, uma divindade chamada Antero, apresentada, às vezes, como o vingador do amor desdenhado e, outras vezes, como o símbolo do afeto recíproco. Contava-se a seu respeito, a seguinte lenda: Tendo Vênus queixado-se a Têmis de que seu filho Eros continuava sempre criança, foi-lhe explicado que isso se dava porque Cupido vivia solitário. Haveria de crescer, se tivesse um irmão. Antero nasceu pouco depois e, logo em seguida, Eros começou a crescer e a tornar-se robusto.
Minerva (Palas), a deusa da sabedoria, era filha de Júpiter, mas não tinha mãe. Saíra da cabeça do rei dos deuses, completamente armada. A coruja era sua ave predileta e a planta a ela dedicada era a oliveira. Byron, em “Childe Harold” refere-se, da seguinte maneira, ao nascimento de Minerva:
“Não podem, por acaso, os tiranos
Senão pelos tiranos ser vencidos,
Não pode mais, acaso, a Liberdade
Achar na Terra um campeão, um filho,
Como Colúmbia, ao irromper, um dia,
Armada e imaculada como Palas?”
Mercúrio (Hermes), filho de Júpiter e de Maia, era o deus do comércio, da luta e de outros exercícios ginásticos e até mesmo da ladroeira; em suma, de tudo que requeresse destreza e habilidade. Era o mensageiro de Júpiter e trazia asas no chapéu e sandálias. Na mão, levava uma haste com duas serpentes, chamada caduceu.
Atribuía-se a Mercúrio a invenção da lira. Certo dia, encontrando um casco de tartaruga, fez alguns orifícios nas extremidades opostas do mesmo, introduziu fios de linho através desses orifícios, e o instrumento estava completo. As cordas eram nove, em honra das musas. Mercúrio ofereceu a lira a
Apolo, recebendo dele, em troca o caduceu.
Ceres (Deméter), filha de Saturno e de Réia, tinha uma filha chamada Prosérpina (Perséfone), que se tornou mulher de Plutão e rainha do reino dos mortos. Ceres era a deusa da agricultura.
Baco (Dionísio), deus do vinho, era filho de Júpiter e de Sêmele. Não representava apenas o poder embriagador do vinho, mas também suas influências benéficas e sociais, de maneira que era tido como o promotor da civilização, legislador e amante da paz.
As Musas, filhas de Júpiter e Mnémósine (Memória), eram as deusas do canto e da memória. Em número de nove, tinham as musas a seu encargo, cada uma separadamente, um ramo especial da literatura, da ciência e das artes. Calíope era a musa da poesia épica, Clio, da história, Euterpe, da poesia lírica, Melpômene, da tragédia, Terpsícore, da dança e do canto, Érato, da poesia erótica, Polínia, da poesia sacra, Urânia, da astronomia e Talia, da comédia.
As Três Graças, Eufrosina, Aglaé e Talia, eram as deusas do banquete, da dança, de todas as diversões sociais e das belas-artes. Assim descreve Spencer as atividades das Três Graças:
“Ofertam as três ao homem os dons amáeis
Que ornam o corpo e ornamentam a inteligência:
Aspecto sedutor, bela aparência,
Voz de louvor e gestos de amizade.
Em suma, tudo aquilo que, entre os homens,
Se costuma chamar Civilidade.”
Também as Parcas eram três: Cloto, Láquesis e Átropos. Sua ocupação consistia em tecer o fio do destino humano e, com suas tesouras, cortavam-no, quando muito bem entendiam, Eram filhas de Têmis (a Lei), que Jove fez sentar em seu próprio trono, para aconselhá-lo.
As Eríneas, ou Fúrias, eram três deusas que puniam, com tormentos secretos, os crimes daqueles que escapavam ou zombavam da justiça pública. Tinha as cabeças cobertas de serpentes e o aspecto terrível e amedrontador. Conhecidas também como as Eumênides, chamavam-se, respectivamente, Alecto, Tisífone e Megera.
Nêmese era também uma deusa da vingança, que representava a justa ira dos imortais, em particular com os orgulhosos e insolentes.
Pã, que tinha a Arcádia como morada favorita, era o deus dos rebanhos e dos pastores.
Os Sátiros eram divindades dos bosques e dos campos, imaginados como tendo cabelos cerdosos, pequenos chifres e pés de cabra.
Momo era o deus da alegria e Pluto, o deus da riqueza.
Fauno, neto de Saturno, era cultuado como deus dos campos e dos pastores, e também como uma divindade profética. No plural, seu nome era empregado para denominar divindades brincalhonas, os faunos, semelhantes aos sátiros gregos.
Quirino era deus da guerra que se confundia com Rômulo, o fundador de Roma, o qual depois de morto, fora levado para ter um lugar entre os deuses.
Belona era a deusa da guerra.
Terminus, o deus dos limites territoriais. Sua imagem resumia-se numa simples pedra ou num poste, fincado no chão, para marcar os limites que separavam os campos de um proprietário do campo de seu vizinho.
Pales era a deusa que velava pelo gado e pelas pastagens. Pomona a que cuidava das árvores frutíferas e Flora, a deusa das flores.
Vesta (a Héstia dos gregos) velava pelas lareiras. Em seu templo, ardia constantemente um fogo sagrado, sob a guarda de seis sacerdotisas virgens, as Vestais. Como se acreditava que a salvação da cidade dependia da conservação desse fogo, a negligência das vestais, caso o fogo se extinguisse, era punida com extrema severidade, e o fogo era aceso de novo, por meio dos raios do sol.
Liber era o nome latino de Baco; Mulcíber, o de Vulcano.
Jano era o porteiro do céu. Era ele que abria o ano, e o seu primeiro mês até hoje o relembra. Como divindade guardiã das portas, era geralmente apresentado com duas cabeças, pois todas as portas se voltam para dois lados. Seus templos em Roma eram numerosos. Em tempos de guerra suas portas principais permaneciam abertas. Em tempos de paz, eram fechadas. Só foram fechadas, porem, uma vez no reinado de Numa e outra no reinado de Augusto.
Os Penates eram os deuses que atendiam ao bem-estar e prosperidade das famílias. Seu nome vem de
Penus, a despensa, que a eles era consagrada. Cada chefe de família era o sacerdote dos Penates de sua casa.
Os Lares eram também deuses da família, mas diferiam dos Penates porque eram espíritos deificados de mortais. Os lares de uma família eram as almas dos antepassados, que velavam por seus descendentes. As expressões lêmures e larva correspondiam mais ou menos à nossa expressão “fantasma”.
Os romanos acreditavam que cada homem tinha seu Gênio e cada mulher, sua Juno, isto é, um espírito que lhes dera a vida e que era considerado como seu protetor, durante toda a vida. No dia de seu aniversário, os homens faziam oferendas ao seu Gênio, as mulheres, à sua Juno.
Assim alude um poeta moderno a algumas dessas divindades romanas:
“A saborosa fruta ama Pomona
E Liber prefere a vinha.
Pales prefere a estala, a fresca palha
Que o calor do gado aquece.
Vênus ama as palaras sussurrantes
Do joem e da namorada
No doce abril, das árvores à sombra,
Por noite enluarada.” (Macaulay, “Profecia de Cápis”)
Saturno era um antigo deus italiano. Tentou-se identificá-lo com o deus grego Cronos, imaginando-se que depois de destronado por Júpiter, ele teria fugido para a Itália, onde reinou durante a chamada Idade de Ouro. Em memória desse reinado benéfico, realizavam-se todos os anos, durante o inverno, as festividades denominadas saturnais. Todos os negócios públicos eram, então suspensos, as declarações de guerra e as execuções de criminosos adiadas, os amigos trocavam presentes e os escravos adquiriam liberdades momentâneas: era-lhes oferecida uma festa, na qual eles se sentavam à mesa, servidos por seus senhores. Isso destinava-se a mostrar que, perante a natureza, todos os homens são iguais e que, no reinado de Saturno, os bens da terra eram comuns a todos.
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FILÓSOFOS GREGOS
(Fonte:
Filosofia pré-socrática , De: Catherine Osborne , Editora: L&PM)
A narrativa que tem sido contada, nos livros escolares e
acadêmicos modernos de língua inglesa, sobre a origem da filosofia grega, é
sistemática e elegante: ela divide o período antes de Sócrates em três fases,
com Parmênides no centro, e caracteriza cada fase por uma abordagem específica a
um problema comum. Os filósofos não seguiram um emaranhado de projetos
diferentes, mas se ocuparam de uma única busca por uma resposta em questão.
Essa narrativa fala de progresso. Como historiadores de
filosofia, gostamos de explicar por que alguma coisa aconteceu depois da outra
e precisamos atribuir a certos acontecimentos a função de causadores de uma
mudança.
Vemos que os pensadores que sucederam Parmênides tomaram um
rumo diferente dos que o antecederam e sugere que, ao aprender a lidar com as
dificuldades levantadas por Parmênides, haviam descoberto algumas verdades
importantes e aprimorado seus métodos de investigação.
Duas características que pensamos ser particularmente
essenciais à filosofia são: primeiro, a disposição de debater abertamente com
aqueles que discordam, reconhecendo que há outros pontos de vista com os quais
é preciso lidar; e segundo, a necessidade de argumentar em termos que o
adversário possa compreender e de respeitar os bons argumentos do outro lado.
Podemos nos convencer de que ambas as coisas estavam acontecendo.
Os pensadores podem ser primitivos, e suas questões podem
parecer muito estranhas, mas eles estavam, aparentemente, discordando uns dos
outros – desafiando e respondendo, um de cada vez, num debate em câmera lenta.
Logo que Tales ( Séc. VII e VI a.C. ), em Mileto, propôs a
ideia de que a água é a origem de tudo, os outros sentiram a necessidade de
questionar isso: ‘Não da água’, disse um, ‘e sim do ar’; ‘Não do ar’, afirmou
outro, ‘e sim, da terra’; ‘De nenhum desses’, disse um terceiro, ‘mas de alguma
outra coisa que na verdade não é nada em particular’. Todos queriam explicar,
da melhor forma, como o mundo que hoje conhecemos pôde ter se originado de um
único tipo de matéria indiferenciada.
[Anaximandro ( Séc. VI a.C. ) acreditava que são coisas indefinidas; Anaxímenes ( Séc. VI a.C. ) acreditava que é o ár; Heráclito ( Séc. VI e V a.C. ) acreditava que é o fogo.]
Essa discussão continuou por algum tempo, com cada colaborador acrescentando uma teoria plausível para explicar como o mundo pode ter assumido a aparência que hoje tem, supondo que sua própria ideia sobre a origem fosse verdadeira.
Algum tempo depois, contudo, por volta da virada do século
VI a.C. para o seguinte, sobreveio uma crise. ‘Esse tipo de teoria é uma
impossibilidade lógica!’, disse um homem chamado Parmênides, que viveu na região
grega do sul da Itália. ‘Uma coisa não pode se transformar em muitas coisas: o
um é um e completamente solitário, e para sempre será assim, ou melhor, não
será, já que não pode haver tempo futuro, e tampouco passado!’ Bom, todos
ficaram perplexos com o arrojado argumento de Parmênides, que ele corroborava
com uma impressionante série de provas meticulosas e detalhadas. Se nada pode
mudar, e se o que havia antes não pode transformar-se em algo novo, como
explicar as estruturas complexas e as diferentes coisas que encontramos à nossa
volta? Então, todos resolveram tentar solucionar esse problema. Todos, com
exceção de alguns fiéis pupilos de Parmênides.
Então, uma nova torrente de teorias fluiu, advinda dos
pensadores do início do século V a.C., a maioria delas contestando Parmênides.
‘Talvez’, eles arriscaram dizer, ‘Parmênides esteja correto ao afirmar que nada
se transforma de fato; mas não seria possível que o mundo fosse complexo desde
o início? Suponhamos que tudo o que existe hoje já existisse desde o princípio:
muitas coisas naquele tempo, muitas coisas agora. Assim, Parmênides pode estar
errado ao dizer que sempre houve apenas uma única coisa.’
E então, eles começaram a formular explicações de como o
mundo pode ter se originado na forma de muitos tipos de matéria: um disse que
havia quatro elementos, outro afirmou que os elementos eram de número infinito,
e outro ainda que havia partículas atômicas (indivisíveis) de matéria, pequenas
demais para que pudéssemos enxergar a olho nú; mas o que todos sugeriram em
uníssono foi que, mesmo que as partículas microscópicas continuassem sempre as
mesmas, ainda assim, modificando sua disposição, se poderia chegar a
combinações e estruturas que assumiriam muitas formas diferentes. Desse modo,
podemos explicar como as estruturas observáveis do mundo estão sempre mudando
de maneiras que parecem plausíveis, mesmo que se acredite em Parmênides.
[Parmênides ( Séc. VI e V a.C. ) , Zenão ( Séc. V e IV a.C. ) e Melisso ( Séc. V a.C. ) acreditavam no Um; Empédocles ( Séc. V a.C. ) acreditava na terra, ar, fogo e água e também unia o conceito de monismo com o de pluralismo considerando-os fases de um ciclo infinito, em que as coisas passam de uma só para muitas, e depois voltam a ser uma, consecutivamente; Anaxágoras ( Séc. V a.C ) acreditava em numerosos componentes infinitamente divisíveis; Léucipo e Demócrito ( Séc. V e IV a.C. ) acreditavam em numerosos componentes indivisíveis e o vazio.]
Então, depois de dois séculos de discussões sobre a natureza
do mundo, eles deixaram suas dificuldades de lado e o período da primeira
cosmologia grega chegou ao fim. Chegara o momento propício para um novo tipo de
questão, desta vez sobre a vida humana e os valores morais. Entram em cena
Sócrates e os sofistas.
TALES ( 624 a 546 a.C. / Séc. VII e VI a.C. )
Onde vivia: Mileto-Turquia
Ele era uma espécie de cientista e impressionou muito as
pessoas de sua época, aplicando suas novas ideias na vida real. Isso lhe
permitiu alcançar alguns exemplos famosos de sucesso militar e econômico. Mas
ele se tornou mais famoso pela ideia de que o mundo fica onde está porque
flutua na água e – dentro do mesmo tema – pela ideia de que todas as coisas do
mundo derivam, de algum modo, da água.
ANAXÍMANDRO ( Séc. VI a.C. )
Onde vivia: Mileto-Turquia
Acreditava que coisas indefinidas dão origem à todas as
coisas.
ANAXÍMENES ( Séc. VI
a.C. )
Onde vivia: Mileto-Turquia
Acreditava que o ar dá origem à todas as coisas.
HERÁCLITO ( Séc. VI e
V a.C. )
Onde vivia: Éfeso-Turquia
Acreditava que o fogo dá origem à todas as coisas.
PARMÊNIDES ( Séc. VI e
V a.C. )
Onde vivia: Grécia
Parmênides, teria se questionado a possibilidade de que uma
coisa possa se transformar em outra.
De acordo com Parmênides, uma coisa não pode se transformar
em muitas coisas: o um é um e completamente solitário, e para sempre será
assim. Também não existem o tempo futuro e nem o tempo passado.
ZENÃO ( Séc. V e IV
a.C. )
Onde vivia: Eleia-Itália-Grécia
Acreditava que o Um dava origem à todas as coisas.
MELISSO ( Séc. V a.C.
)
Onde vivia: Samos-Grécia
Acreditava que o Um dava origem à todas as coisas.
EMPÉDOCLES (Séc. V a.C.)
Nacionalidade: Itália
Acreditava que terra, água, fogo e ar dão origem à todas as coisas.
Empédocles, foi um filósofo pré-socrático que viveu em Agrigento na Grécia Antiga.
Empédocles acreditava que o Amor e a Discórdia regiam todas as coisas do Universo. Sendo que as coisas se atraem por Amor e se afastam por causa da Discórdia.
Dizia ainda, que antes, todas as coisas era uma coisa só em amor, até que a discórdia começou a distinguir o universo em muitas partes, e que um dia esse processo se reverterá, e assim por diante em um eterno ciclo.
Empédocles também definiu os quatro elementos essenciais da matéria, como: água, fogo, terra e ar.
Palavras atribuídas a Empédocles:
“Uma dupla narrativa empreenderei. Em determinado instante
tornaram-se uno
A partir de muitos e, em outro, voltaram a dispersar-se para
ser muitos a partir do uno.
Dupla é a gênese das coisas mortais e duplo é o seu
desaparecimento:
Uma é gerada e destruída pela agregação de tudo,
A outra é criada e se dissipa quando tornam a dispersar-se
as coisas.
E nunca cessa esta sua contínua transformação,
Ora convergindo todas num todo por obra do Amor,
Ora tornando a afastar-se por obra do ódio da discórdia.
Assim, conquanto tenham aprendido a formar um uno a partir
da pluralidade
E a novamente tornarem-se múltiplas à medida que se
desagrega o uno,
Nessa medida são engendradas, e efêmera é sua existência;
Porém, conquanto jamais cessa sua contínua transformação,
Nessa medida existem para sempre, imóveis em um círculo.
Mas vem, atenta em minhas palavras; pois o aprendizado à
mente alarga.
Conforme antes já disse ao revelar os limites de minhas
palavras,
Dupla é a narrativa que empreenderei. Em determinado
instante, tornaram-se uno a partir de muitos e, em outro, voltaram a
dispersar-se para ser muitos a partir do uno-
O fogo, a água, a terra e as infindáveis alturas do ar, e a
funesta Discórdia à parte eles, em toda parte equilibrada,
E entre eles o Amor, igual em comprimento e largura.”
“Existe um oráculo da necessidade, antigo decreto dos
deuses,
Eterno, selado por amplos juramentos
Segundo o qual sempre que alguém incorre em erro e mancha,
temeroso, seus caros membros
Todo aquele que, tendo incorrido em erro, comete perjúrio
- um daqueles espíritos agraciados com longa vida – há de
vagar três vezes dez mil anos longe dos bem-aventurados.
Tornar-se, em seu tempo devido, todas as espécies de
mortais,
Trocando um penoso caminho de vida por outro;
O poder etéreo precipita as almas ao mar
O mar cospe-as para o alto em direção à terra, a terra em
direção aos raios
Do radiante sol, e o sol as lança em direção aos turbilhões
do éter;
Cada qual as recebe de outro: todos as odeiam.
Este é o caminho que ora percorro, fugitivo que sou dos
deuses, e uma alma errante.
Na insana Discórdia confiei.”
“... distanciar-se uns dos outros e então encontrar seus
destinos, muito contra suas vontades, nas mãos de uma necessidade amarga que
tudo corrói; mas para nós que agora temos amor e boa vontade haverá no futuro
as Harpias com vereditos de morte. Ah! Que o dia cruel me tivesse destruído
antes que eu, com minhas garras, tramasse feitos terríveis a respeito de
comida.”
ANAXÁGORAS ( Séc. V
a.C )
Acreditava que numerosos componentes infinitamente
divisíveis dão origem à todas as coisas.
LEUCIPO ( Séc. V e IV
a.C. )
Acreditava que numerosos componentes indivisíveis e o vazio
dão origem à todas as coisas.
DEMÓCRITO ( Séc. V e
IV a.C. )
Acreditava que numerosos componentes indivisíveis e o vazio
dão origem à todas as coisas.
--
(continua...)
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